segunda-feira, 21 de março de 2011


Discutamos o pensamento Político de Câmara Cascudo
Luiz Gonzaga Cortez Gomes

Há necessidade de se estudar o pensamento político de Luís da Câmara Cascudo, o maior intelectual do Rio Grande do Norte? Há. E como há. Os nossos estudiosos, intelectuais acadêmicos ou não, têm escrito muitos textos sobre o folclorista, historiador Cascudo, mas omitem, deliberadamente ou não, o lado político do mestre da rua Junqueira Ayres. Um renomado escritor e magistrado, me disse que o integralismo durou tão pouco tempo que não dá para estudar nada sobre Cascudo na Ação Integralista Brasileira. Não precisa de muito esforço, não, para se realizar um evento, um seminário, uma jornada escolar, uma gincana com colegiais ou uma simples reunião de bate-papos com o tema básico: as idéias políticas de Luís da Câmara Cascudo e a sua influência na juventude potiguar nos anos trinta. Ou sobre as suas idéias políticas na comunidade católica. A sua atuação na Ação Integralista Brasileira, sob o beneplácito da Igreja Católica, do bispo Dom Marcolino Esmeraldo Dantas, do professor e comendador Ulisses Celestino de Góis e uma plêiade de sacerdotes, estudantes e líderes religiosos. È por aí que se iniciaria o debate que poderia ser promovido pela Fundação José Augusto e a Academia Norte-rio-grandense de Letras, instituições maiores da nossa cultura que, aliadas ao Instituto Histórico e Geográfico do RN, prestariam um enorme serviço em prol do desenvolvimento cultural e político.
Há algum empecilho? Qual? De quem? É, vão dizer que Câmara Cascudo foi um grande pesquisador, que Deus seja louvado por ele ter nascido em Natal, que ele é um nome universal, mas “vamos deixar isso de lado porque o integralismo foi influenciado pelo fascismo italiano”. Besteira. E se Cascudo tivesse sido influenciado pelo comunismo stalinista? E se Cascudo tivesse “endeusado” os americanos do norte em seus livros e publicações? Muitos intelectuais brasileiros foram integralistas antes de novembro de 1937 e depois se tornaram socialistas ou comunistas, ou simplesmente de esquerda, como foi o caso do padre Helder Câmara. E esqueceram de dom Helder Câmara? Esqueceram do compositor Vinício de Morais? Esqueceram de Menotti Del Pichia? Esqueceram do grande filósofo Miguel Reale? Esqueceram de Otto Guerra, Hélio Galvão, Manoel Rodrigues deMelo? Anotem: Vingt-Um Rosado foi seguidor de Plínio Salgado, mas, nos anos sessenta, mudou e passou a simpatizar Luiz Carlos Prestes.(A propósito, Plínio Salgado foi um grande escritor e jornalista, autor de vasta obra literária, líder político e nacionalista, enquanto Prestes não escreveu porra nenhuma e perdeu todas ações militares, em suma, um “General de Itararé”). Esqueceram do grande filosofo e jornalista Roland Corbisier, ex-integralista, que faleceu em fevereiro de 2005, membro do Partido Comunista do Brasil? Em Natal, temos um jornalista que foi cobrador do Partido de Representação Popular-PRP, sucedâneo da AIB, nos anos 50 e hoje é de esquerda. Que pecado eles cometeram? Por esses e muitos outros exemplos, é que não podemos estigmatizar os brasileiros que foram integralistas, de direita, conservadores, católicos apostólicos romanos ou protestantes, obedientes aos dogmas da Santa Madre Igreja, com sede em Roma, que apoiou em número, gênero e grau o fascismo de Benito Mussolini. O fascismo, que de feixe, que significa união, tomou o poder na Itália com forte apoio da classe operária italiana, da burguesia, da monarquia e da Igreja, em 1926, numa época em que o comunismo avançava, cujo totalitarismo de esquerda motivou o totalitarismo de direita, o fascismo, o nazismo, o franquismo, o integralismo português (salazarismo), o integralismo de Plínio Salgado, etc. Isto é, para enfrentar o comunismo e a sua “ditadura do proletariado”, a burguesia capitalista financiou o fascismo, na Itália, e o nazismo, na Alemanha.Mas isso é outra história.
Na minha modesta opinião, está na hora de ultrapassarmos essa fase de escrevermos sobre as viagens de Câmara Cascudo em Angola, África, no inicio da década de 1960, às custas do governo de Oliveira Salazar e dos Diários Associados, via Assis Chateaubriand. Cascudo sempre foi um homem de direita, isso é inegável. Por isso, o regime de Salazar, que mantinha aa ferro e a fogo a colônia de Angola, financiou a viagem de estudos de Câmara Cascudo. E daí? O leitor acha que Cascudo iria estudar o folclore de Cuba e os seus hábitos gastronômicos? Não, ele foi a Portugal e a suas colônias africanas. Made in África é resultado da viagem ao continente africano, cuja 1ª edição foi lançada no salão dos grandes atos da Fundação José Augusto. Eu vi o lançamento. Na época, um embaixador brasileiro, Raimundo de Souza Dantas, se não me falha a memória, também lançou um livro de sua autoria. Fiquemos por aqui. E que a FJA/ANL e IHGRN se irmanem e discute mos o lado político de Luís da Câmara Cascudo.
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Luiz Gonzaga Cortez Gomes é jornalista e pesquisador.
cortez.melo02@supercabo.com.br
gonzagacortez@gmail.com
Natal, 13.02.2011.

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