segunda-feira, 9 de maio de 2011


A DERRUBADA DO MACHADÃO E A VOLTA AO JUVENAL LAMARTINE?
Vou publicar depoimentos sobre o assunto, até o dia 14 próximo, quando teremos a "Marcha da Solidariedade ao Estádio-Poema"

Um minuto de silêncio
De Kerubino Procópio, para Moacyr Gomes


Não é a primeira vez que escrevo sobre a demolição do Machadão e do Centro Administrativo do Estado. Naquele outro momento, alguns meses atrás, a decisão do desmanche do Machadão e adjacências era tida como uma hipótese distante, uma espécie de transfusão de risco para um corpo são. Ninguém acreditava que fosse verdade a alternativa da destruição, até porque se sabe que Dom Quixote é coisa de ficção Entretanto, a notícia corria solta, fazendo um contraponto com as baladas do Poder.

Eu dizia e repetia, Moacyr, que não tinha sentido uma demolição em série de obras úteis e vultosas com a finalidade única de conhecer atletas sem tradição ou receber autógrafo em língua estrangeira. Assim, eu pensava porque o desmanche, além de inútil, parecia uma agressão às vestes da nossa pobreza, já tão cheias de demolições. Não havia lógica nesta nova calamidade numa cidade tão rica em calamidades públicas.

Contudo, o certo é que agora o fato está consumado. O desmanche não é mais uma quimera ou fantasia política. A sorte está lançada e o crupiê já recolheu as cartas e as fichas. De nada valeram os esforços de técnicos e especialistas em artigos e exposições, fundados em números, equações e equilíbrios orçamentários. Tudo isto passou ao largo do ponto de ebulição do problema porque uma coisa, Moacyr, é a matemática de números e outra é a matemática que decide. São concepções incompatíveis. Estou querendo dizer que a poeira da demolição não é apenas poluição, ela também suja as mãos.

Apesar de tudo, quem sabe, Moacyr, se neste clima de perdidos e achados não estejam eles, os responsáveis, guardando uma homenagem secreta para o arquiteto que envaideceu a cidade com desenhos e emoções. Quem sabe? Será que você não será chamado, discordâncias a parte, para protagonista do pontapé inicial da partida de fechamento do estádio, antes que as luzes da ribalta se apaguem? Não duvido tanto, porque gostaria bastante. Imagino tudo isto com a visão de divina comédia, onde o trágico se perde nos gestos de superação. Um chute lento, olhos na multidão, com uma mensagem de quem devolve uma medalha olímpica, chutando a história. Neste instante, o seu jogo terminou, a paga está feita e quem sabe, a platéia entenda e possa aplaudir em pé o silêncio de um retirante, "um minuto de silêncio".

Na realidade, sei que nada disto vai acontecer. O Estádio vai desabar sem qualquer suspiro de reconhecimento ou retardo de melancolias. O que passou é sumiço, é gol perdido que não conta para os abraços.
Por isso, não vale a pena continuar a pensar em escombros ou restos mortais. O que eu queria era entender os pobres mortais e a dor da lucidez.

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