sábado, 4 de junho de 2011


INAUGURAÇÃO DO CASTELÃO (atual "MACHADÃO")

Em maio de 1972 João Havelange visita Natal e inspeciona as obras para verificar da possibilidade de sua utilização para a Taça Independência (Mini-Copa) aprazada para o dia 11 de junho, que seria a data da inauguração do estádio. De última hora houve a determinação de antecipá-la para antes daquele Campeonato e assim acontecendo no dia 04 de junho, dividindo o espaço útil com pedaços de andaimes e material restante de construção.
Chega o dia ansiado – inauguração do “Castelão”, homenagem apressada ao Ilustre Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, sem tradição no campo esportivo, mas o principal articulador do movimento de 31 de março de 1964 e oficial de incontestável valor.
Antes disso o estádio foi apelidado de “Agnelão”, que seria homenagem ao Prefeito que teve a coragem de iniciar a concretização do sonho, mas que caiu na desgraça do governo militar e, sequer foi convidado para a festa.
Posteriormente, num lance de extrema felicidade, resolveram os desportistas em batizá-lo como Estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado, o “Machadão”.
A solenidade foi presidida pelo Governador Cortez Pereira que, ao fazer alusão sobre o estádio o proclamou como um “poema de concreto armado”, ladeado pelo Prefeito Jorge Ivan Cascudo Rodrigues e muitos convidados ilustres. Era o dia 04 de junho de 1972 o batismo efetivo daquela obra.
Paraquedistas descem sobre o gramado, foguetões e a presença do povo a testemunhar aquele feito – uma festa.
O primeiro clássico ABC 1 X 0 AMÉRICA. Primeiro gol – William. Em seguida VASCO DA GAMA 0 X 0 SELEÇÃO OLÍMPICA DO BRASIL. O estádio era uma realidade.
Vale aqui reproduzir trechos de depoimento prestado pelo Arquiteto Moacyr Gomes, porque detalha lances da história do “Machadão”:

"1.... foi exclusivamente por força do grande prestigio de João Machado perante àquele presidente da então CBF, conforme relato a seguir: Fui ao Rio em agosto de 1971 portando um simples bilhete de apresentação de João Machado àquele importante paredro, o qual me recebeu de imediato, com todo cavalheirismo que lhe era peculiar, demonstrando toda a amizade e consideração pelo nosso "Joca Macho". Confessando a sua impossibilidade de nos ajudar financeiramente na conclusão do estádio, me fez portador de um recado a Cortez e Jorge Ivan, prometendo incluir Natal no torneio do Sesquicentenário da Independência (mini-copa do mundo, muito mais expressiva do que as duas ou tres peladas que a FIFA promete para a Copa 2014), e. ainda mais, em consideração ao fato da origem portuguesa do amigo, mandaria pra cá a notável seleção portuguesa comandada pelo grande Eusébio, o que de fato aconteceu, tendo esta se sagrado vice campeã do torneio, no Maracanã, sendo o Brasil Campeão com um gol de Jairzinho, partida que fomos assistir no Rio, eu, com minha mulher, e os amigos Mario Sergio Garcia de Viveiros e sua Lucia de Fátima;
2 - A atitude do Sr. Havelange mudou todo o quadro de dificuldades e a obra tomou novo impulso, toda a cidade acreditando e aplaudindo, todos querendo ajudar, clima de expectativa e credibilidade (naquele tempo não havia PPP, a não ser como desaforo chulo) a imprensa acreditando em nós (alguns hoje , ex-colegas, ex-discípulos e ex-admiradores de João Machado são apologistas da demolição do Machadão em nome da "modernidade do legado" de um mundo novo prometido pela FIFA,... Freud explica) . Cabe destacar que o esforço do desportista Humberto Nesi para nos ajudar naquele momento decisivo, reconhecido posteriormente em justa homenagem com a aposição do seu nome ao ginásio '"Machadinho", estará condenado a somar-se aos escombros do "Machadão" e da creche Katia Garcia (...a mão que afaga é a mesma que apedreja" ... já dizia Augusto dos Anjos);
3 - Cabe ainda o relato de alguns fatos curiosos como por exemplo: a inauguração do estádio estava prevista para 11/6/1972 quando jogariam Portugal x Equador, porém foi antecipado para o dia 4, o que nos causou angustiosa correria, pois na véspera até Humberto Nesi estava ajudando na marcação de cal no campo de futebol, na madrugada tivemos, Mário Sergio e eu, que ajudamos a carregar os pesados móveis dos vestiários, chegados num momento em que não havia mais ninguém no recinto, e no dia do jogo saímos para almoçar e pegar nossas esposas quase em cima da hora de começar o espetáculo; outro fato curioso é que negaram convite a Agnelo para as solenidades oficiais, por isso devolvi o meu, no que fui acompanhado pelos colegas presentes, em solidariedade àquele que era o verdadeiro pai do estádio e que recebia o voto da ingratidão. Encontrei-o anônimo no meio da multidão, dei-lhe o abraço que se dá aos vitoriosos, com os votos da gratidão que lhe devia, e desde então consolidamos uma longa e afetuosa amizade."

Logo em seguida (11 de junho) teríamos o início da Mini-Copa (Taça Independência), comemorativa dos 150 anos do Grito do Ipiranga, o que comentaremos no próximo artigo.
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Reprodução de artigo que escrevi neste blog em 17.12.2010



COINCIDÊNCIA ?

Exatamente nos seus 39 anos de existência, Natal assiste, atônita, o começo do desmonte do nosso Machadão, mercê da sanha criminosa de pessoas de visão curta, que insistem em destruir um patrimônio do povo, plenamente aproveitável, para erguer em seu lugar uma "arena" que poderia ser construída em outro local mais adequado, uma vez que o progresso da cidade implicará, brevemente, na necessidade de espaço para a mobilidade urbana.
Num momento em que o Estado do Rio Grande do Norte amarga dificuldades financeiras sem conta e convivendo com um número record de greves, sem capacidade de investimento, se insiste nesse empreendimento temerário, em detrimento de tantos outros equipamentos públicos reivindicados, que muito melhor atenderiam à qualidade de vida do povo.
A figuração que nos ocorre, na insistência desse projeto megalomaníaco, é a de um MENDIGO DE FRAQUE E CARTOLA, nada mais que isso.
VERGONHA! TRISTEZA!IMPUNIDADE!

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