quarta-feira, 6 de julho de 2011

A bola, essa nossa inimiga
Everton Dantas
Novo Jornal, 1º de julho de 2011


Gasta-se muita energia com bola neste país. Todos os dias, o tempo inteiro, há alguém tratando do assunto. Na mídia não é diferente. É pior. São milhares de páginas de jornais e incontáveis minutos de TV e Rádio empregados exclusivamente para falar da bola que rola nesta terra. E é uma bola imensa. E está em todo canto. Corre faceira na rua, na chuva, na fazenda e também nas casinhas de sapê; sejam elas habitadas por parlamentares, administradores e/ou magistrados.
Mesmo quando não rola bola alguma, ela continua presente, onipresente; ditando a agenda de assuntos; alimentandos sonhos de crianças que sonham se tornar craques e de adultos que compõem uma verdadeira nação de pelés, manés, patos e gansos. Não fosse a bola e esse país todo dedicado a ela, talvez tivéssemos mais saúde e educação. Talvez houvesse mais pão, leite, açúcar e farinha no País. Talvez não se perdesse tanto.
Não fosse a bola teríamos mais tempo (levando em consideração o que o tempo realmente é) para cuidar, por exemplo, do planejamento urbano dessa cidade e torná-la (aprimorá-la) um espaço de causar inveja às outras cidades que onde a Copa vai baixar. Mas não.
Por causa da bola, estão preferindo estuprar Natal em obras e promover durante um longo período o surgimento de manhãs e tardes onde vai ser praticamente impossível manter a calma no tráfego desta cidade já empazinada de veículos.
Por causa da bola optou-se recentemente por gastar R$ 300 mil num seminário onde só se falou sobre a bola e os benefícios que ela trará á cidade. R$ 300 mil que incluíram gastos com publicidade num jornal que não figura no mesmo panteão no qual estão o Estadão, o Globo ou a Folha, veículos que justifi cam realmente
uma aplicação para divulgar um suposto destino turístico para o Brasil. A bola é tão forte que atraiu até Ricardo Teixeira a Natal.
Saravá. E é tão poderosa que os gastos com a Copa do Mundo 2014 no Brasil serão superiores ao total investido nas últimas três realizadas (Japão-Coréia, Alemanha e África do Sul).
O mais triste dessa história toda envolvendo a bola é que poucos realmente vão tocar nela; vão recebê-la; ter seus benefícios.
São pouquíssimos. Veja os craques da bola que temos.
São poucos que realmente levam. São só eles, suas famílias e alguns chegados. O restante apenas vai pagar. Pagar caro. Pagar e assistir.
E voltar para casa, num fi m de tarde de domingo, dentro de um ônibus lotado, embriagados, enganados, derrotados. E enquanto levarão horas para chegar às suas casas serão faustosamente driblados por carros luxuosos que – em sentido contrário (para a zona sul e além) – avançarão em direção à meta e, donos da bola que são, porão fi m a mais uma goleada de muitos zeros.
Viva à bola, essa nossa amada inimiga.

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