domingo, 14 de agosto de 2011

RETALHOS DE SAUDADES

Nesta manhã de domingo, em que se comemora O DIA DOS PAIS, desde muito cedo, após o café matinal com Thereza, começa a romaria dos filhos e dos netos trazendo-me mensagens de amor e carinho, paralelamente às emoções de um tempo passado.
Após as primeiras lágrimas, vou conferir as mensagens em meu computador e logo deparo-me com novas moções de extremo carinho dos meus amigos.
Estou feliz, mas escolhi o domingo para registrar neste blog as manifestações culturais, embora estas não descartem a saudade, a tristeza e, mais que tudo, a vida.
Reproduzo, assim, uma bela mensagem da minha inesquecível vizinha Lourdinha Nogueira, que completaria 90 anos e que me foi enviada pela sua filha Ana Amélia. Obrigado, com um grande e saudoso beijo.
Em seguida, a eterna musa da terra dos canaviais, Lúcia Helena, com sua verve e, agora também como uma intérprete musical, que deixou surpresos e gratificados todos aqueles que foram à seresta promovida por Jojó na casa de Pedro Simões/Jailza.
Termino com Deth Haak, Poetisa dos Ventos, autêntica representante da SPVA.

 Em seguida, reproduzo mensagens recebidas.


* * *

(DO QUE EU GOSTAVA E DO QUE EU TINHA MEDO)
Maria de Lourdes Cavalcanti Nogueira (*)

Minha gente,

Não estou na lista de intelectuais nem de jornalistas, também não tenho bagagem para isto. Porém, peço permissão para escrever alguma coisa que eu vi meus pais falarem e muitas e muitas que eu tomei conhecimento.
Todas as crônicas que leio no jornal me emocionam muito porque encontro gente minha, envolvida. Aqui, eu vou fazer um colchinha de retalhos de saudades.
Eu tinha medo quando Cambraia gritava os jornais. Ele percorria as ruas gritando com voz estridente pelo próprio apelido: Caambraaaaia!....... Isto existiu mesmo. Não sei o porque desse nome - talvez porque ele era preto e a cambraia tecido, só tinha bem branca
O Barrão 70: uma pessoa afogada na ilusão da vida; vivia perambulando sem lar e sem nada. Muito sujo, pois não trocava de roupa. Andava com um grande saco de estopa nas costas. Não pedia nada, nem agredia ninguém. Porém, toda a roupa que se dava para ele trocar, ele vestia por cima da outra ( acho que os pais faziam terror para as crianças se aquietarem).
Também tinha medo do Papa-figo. Este, nunca vi, nem sei dizer nada sobre ele.
Tinha medo de dois rapazes da alta sociedade que eram bem baixinhos (eu, bem pequena, era maior que eles) Eles se vestiam muito bem com ternos, gravatas, chapéu e sapatos bem envernizados. Eram intelectuais e um deles tocava piano.
Gostava de ver Bernadete, uma professora que ficou doente da cabeça. Antes da doença, ela passeava muito e gostava do carnaval de Pernambuco. Por isso, quando enlouqueceu, vestia suas saias bem godê, sapato tênis e com uma sobrinha aberta, cantava e dançava os frevos na rua. Tinha uma voz linda demais. Os senhores que a conheciam lhe davam algum dinheiro, com muito respeito. Ela procurava-os sempre no Cova da Onça, no Natal Clube e nos Cinemas Politeama e Royal. Todas as pessoas que ela conhecia, chamava pelo nome. Meu irmão, José Aguinaldo, achava que dava sorte se encontrar com ela.
Outras coisas que eu gostava: cavaco chinês, que por sinal, no tempo, não mudou em nada; sorvete feito na hora, numa caixa de madeira com uma manivela rodando - eu sei que o sorveteiro contornava a caixa por dentro com gelo picado e muito sal, para conservar. Mas, já tinha as caixinhas para servir!
De comida de rua era oferecido alfenim doce, puxa-puxa, cocada, cavaco chinês, doce seco ( era uma tapioca bem dura com recheio bem ardoso) e geléia de coco que ainda existe (cortavam os pedaços no tabuleiro); caldo-de-cana moída na hora e aluá de abacaxi.
Ainda lembro coisas que me davam muito medo.
Tinha medo de ver passar enterro dos indigentes - eram levados numa rede num pau bem forte ( um caibro de casa ) onde se pendurava um punho num lado e no outro - tudo coberto. Escolhiam para carregar a rede com o morto, os doentes mais calmos do Asilo que era dirigido por um senhor de muita formação e competência, Cândido Medeiros, que deixou uma família muito grande, pessoas importantíssimas que hoje, os últimos rebentos estão vivos e podem endossar o que eu estou dizendo. Só em conversa podemos podemos pesquisar mais sobre estas criaturas. Umas se foram bem novas e outras ainda estão vivas e inteligentes, honrando o nosso Rio Grande do Norte que está muito sofrido .
Voltando a falar dos enterros dos indigentes - os quatro homens tomavam um pouquinho de cachaça, saíam de dupla para se revezarem. Por vezes, andavam bem depressa, certamente por causa do peso e para chegarem logo. Eram vigiados por dois enfermeiros bem fortes e levavam para o cemitério do Alecrim. Neste tempo, era o único, por que Natal terminava por este bairro e ia até onde as lavadeiras lavavam as roupas - no rio das Quintas. Elas levavam uma grande trouxa de roupa amarrada nas quatro pontas da toalha. Levavam também uma bacia de alumínio emborcada em cima. A lavadeira da minha casa, só almoçava de tarde quando trazia aquela roupa tão cheirosa. Eu costumava jantar com ela. Mamãe fazia o prato e deixava no forno do fogão - um tal fogão inglês à lenha. Até tapioca se fazia na chapa. A comida era bem quentinha.
Então, a lavadeira com as palmas das mãos bem brancas e engelhadas do frio da água do rio, fazia macaquinho de feijão com toucinho, para mim. Quando mamãe via, ai de mim !...era um castigo certo!..
Para não apavorar muito os leitores vou descrever os enterros dos ricos. Tinha um bonde preto com cortinas pretas e flores, certamente alecrim cheiroso. O cortejo era a pé - por vezes, aparecia algum carro tipo Ford W8.
Conheci bem de perto um senhor muito importante de nome João Leandro que morava na rua da Estrela, onde morávamos. Tinha a sua oficina mortuária em casa, ao lado. Trabalhava muito a noite, quando era caixão de rico. Meu pai, era muito gaiato e dizia assim: “hoje é noite do dinheiro e do martelo”!... As cores dos caixões eram preta, roxa ou branca (esta só para moça donzela). Os pequenininhos eram azuis, muito enfeitados de dourado ou prateado. Não existiam urnas de madeira.
Nesse tempo, com tudo tão calmo e com segurança as crianças brincavam nas calçadas. Então, numa noitinha, eu e outras crianças vizinhas, estávamos brincando de “tica”. Um menino grande gritou: “olha o papa-figo!.... A gente saiu numa carreira tão desenfreada que entramos na primeiro porta aberta - era o portão da tal oficina. Foi então que nos deparamos com os caixões enfileirados de um lado e do outro. Os gritos uuuuiiii, aaaaiii, foram de arrepiar!.. O senhor João Leandro apareceu e expulsando todas, disse: “vão na frente que eu vou atrás para dizer a seus pais que, se ele não der educação a vocês eu vou dar!” A turma ficou chamando-o de “professor caminho do céu”. Isto tudo, muito escondido, pois não tínhamos maldade nem coragem.

(*) Dona de casa, viúva. Começou a escrever depois
dos 78 anos de idade.
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Colaboração de sua filha Ana Amélia

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POEMA QUE ESCREVI HÁ QUATRO ANOS E DEDIQUEI AO VALE VERDE

VERDE, SEMPRE TE QUERO VERDE.



(Dedicado ao Ceará-Mirim)
Lúcia Helena Pereira

-Verde, sempre te quero verde!
Vestido de esperança e dourado de sol.
Verde, sempre te quero verde
Brilhando na chuva e espreguiçando-se ao vento.
Verde, sempre te quero verde,
Iluminado e festivo
Comemorando história e preservando lembranças.

-Verde, sempre te quero verde
Exibindo casarões, praças e ruas,
Patrimônios de antigas nobrezas.
Verde, sempre te quero verde,
Impetuoso, destemido e alvissareiro,
Na travessia dos séculos.
Verde, sempre te quero verde,
Na memória dos teus filhos ilustres,
Uns distantes, outros próximos do coração.

-Verde, sempre te quero verde,
Coberto pelo aroma fresco das matas
E banhado pelos rios serenos,
Onde sussurram as sinfonias do tempo.
Verde, sempre te quero verde,
Embelezando-se no Oiteiro, Guaporé,
Santa Águeda, Verde Nasce,
Mucuripe, Solar Antunes!
Verde, sempre te quero verde,
Na Usina São Francisco, Ilha Bela,
No Cumbe e Diamante.

-Verde, sempre te quero verde,
Nas águas misteriosas e perfumadas dos olheiros,
Do rio Água Azul, Nascença, sempre te quero verde e eterno,
Na casa - grande onde corri meus passos de criança,
E bebi água de poço refletindo a minha vida!

-Verde, sempre te quero verde
Anunciando alegrias e acordando saudades.
Nas águas límpidas o Rio Ceará - Mirim.
Verde de memoráveis figuras
Do meu bisavô, José Antunes de Oliveira,
Da minha avó paterna, Madalena Antunes,
Do meu tio-avô Juvenal Antunes de Oliveira,
Do primo amado, Nilo de Oliveira Pereira.
Ceará - Mirim de Edgar Varela e Edgar Barbosa,
Da ex-prefeita Terezinha da Câmara Melo,
De Roberto Pereira Varela e Rui Pereira Júnior,
De Adelle de Oliveira e José Augusto Meira.

-Verde de tantos nomes queridos:
Raimundo Pereira Pacheco e Olympia (meus avós maternos)

-Ceará-Mirim dos meus pais:
Abel Antunes Pereira e Áurea Pacheco Pereira.
Dos meus tios: Ruy Antunes Pereira, Vicente Ignácio Pereira,

Joana D´Arc Pereira do Couto!
Verde de Zizi -Augusto Vaz Neto (primo tão querido),
De Herbert Washington Dantas,
De Gracilde Correia de Melo e Idalina Correia Pacheco,
Do meu trisavô, Manoel Varela do Nascimento e Bernarda.
Verde dos tios: Etelvina Antunes Lemos e Ezequiel Antunes.
Das minhas contadoras de estórias: Piô e Maroca.
-Ceará-Mirim de Quincas e Lebre
Do compadre Joaquim Gomes (tocador de Rabeca),
De dona Biluca - rendeira de almofadas de bilro!
Verde, resplendente verde,
De minha Duda (Iara Maria Pereira Pinto),
De Uruca - Denise Pereira Gaspar,
De minha primeira professora: Valdecy Villar de Queiroz Soares!
Verde das minhas conterrâneas: Naide, Neire e Nadeje,
De Abner de Brito, Onofre Soares, Gibson Machado,
Dr. Percílio e dona Esmeralda.

-A cidade verde, de canavial ondulante,
Da Matriz de N.Sra. da Conceição
Das oiticicas cheirosas, manacás, umburanas…
Ceará-Mirim, criança de 153 anos
Engalanando - se para festejar
Seu VERDE luminoso e iluminado,
Brilhando nas asas dos araraús
Passeando pelo infinito
E nas sinfonias siderais,
Repercutindo no dobre dos sinos
Da Matriz de N.Sra. da Conceição
Ecoando pelo vale!

Ceará - Mirim! Sempre VERDE!
É assim que eu te quero!
               
* * *

Sim a vida...
Deth Haak

Conceber no próprio ser
Um fruto para preservar
O principio dum crescer
Na alquimia de amar...

Dádiva por Deus concedida
Pra a espécie eternizar
Muda o corpo da parida
Pro universo transformar.

Aborto é falta de amor
Covardia de quem pratica
Mulher e o demente doutor
Uma insana falta de ética
O desamor do precursor.

Faça repartir a vida
Neste ato de amar
Na poesia que aqui grita
Por crescer e multiplicar.

Sim a vida! E não ao abortar
Vida é promessa cumprida
Aborto é sinônimo de matar,
Um feto a rogar... Pela vida!
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Mensagens recebidas DA FAMÍLIA


O primeiro cumprimento do dia foi de Thereza, com a entrega de presentes em nome de Chana e Yukare (gatos).
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“Pai,

Guardo com muita alegria e saudades o tempo da minha infância e adolescência que passamos juntos. A matinê do cinema Rio Grande assistindo filmes como “Pele de asno”, “Submarino Amarelo”, “La Violetera” e outros. Os piquiniques e acampamentos em Ponta Negra e Cotovelo. A ida ao SCBEU e FISK; o clube do chorinho no sábado à tarde no Bosque dos Namorados; o churrasco do domingo na Dom Pedrito. Tempos bons, que não voltam mais é verdade, mas que foi fundamental para que eu entendesse a importância de um pai na vida de um filho. Te amo, você é muito mais do que eu escrevi. Beijos ROSA”

Presentes e abraços de Rapha e Bibi, e cumprimentos de Ernesto.

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“Eu aprendi muito com você...

Por sua paciência para me ouvir, sua generosidade, seu senso de justiça e seu dom para a compreensão e incentivo...

...você é um grande professor e um grande amigo.

Sou muito grata por ter alguém tão especial como você em minha vida. Parabéns pelo seu dia. Te amo TÊTA”

Presentes e abraços de Lucas Antônio e Carlos Victor.

... Vovô, parabéns pelo seu dia. Que você continue a me dar aquelas comidinhas debaixo da mesa. Beijos “au” “au” Malu (cadelinha de estimação)
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Mensagem que CARLINHOS preparou, com Valéria e Carlos Neto:

“RECEITA DE PAI

Deus pegou a força de uma montanha, a calma de um mar tranqüilo, a generosidade da natureza, a majestade de uma árvore, os confortáveis braços da noite, a sabedoria das eras, o calor de um verão, o poder do vôo da águia, a alegria de uma manhã de primavera, a fé de uma semente de mostarda, a paciência da eternidade e o centro da necessidade de uma família.

Depois Deus juntou todos esses ingredientes e quando percebeu que nada mais havia para acrescentar, Ele viu que Sua obra prima estava completada.

Olhou para essa obra e disse: ‘A tua missão é sagrada. Vai para a vida, vai!’

Só falta eu de dar um nome: E te batizo de PAI.

Vai...Tens todo o meu apoio!”

“POR QUE O SENHOR REPREENDE AQUELE QUE AMA, ASSIM COMO O PAI AO FILHO A QUEM QUER BEM” (Provérbios 3:12)

FELIZ DIA DOS PAIS. (juntou fotos marcantes de várias passagens de nossas vidas) tudo num envelope escrito por Carlos Neto “Te Amo, vovô”.

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CARTA AO MEU PAI

Tantas vezes tentei definir meu pai: perfeito? honesto? austero? probo?

Aí eu me pergunto... ele será TUDO isso? será SÓ isso?

Meu pai, certamente, tem todos estes predicados. Contudo, não é perfeito, e graças a Deus que não é.

Tem seus momentos de fraqueza, medo, desesperança, raiva, indignação. Às vezes não acredita mais no mundo e se pergunta se vale a pena ser correto, em uma sociedade tão corrompida.

Essas dúvidas vêm e vão tão rápido quando a certeza da retidão de seu caráter.

Meu pai, com certeza, não é perfeito, pois mentiu muitas vezes para mim, fazendo-me acreditar que o mundo não tinha defeitos, que havia anjos em todos os cantos e que nada poderia me fazer sofrer.

Infelizmente, o mundo não é o idealizado e declamado por ele em minha infância, tentando poupar-me de suas mazelas.

Pai, como diz a música, “eu cresci e não houve outro jeito”, começo a ter as mesmas dúvidas e certezas que você. Começo a mentir para minha filha sobre um mundo perfeito, para salvaguardá-la do nosso.

Pai, gostaria de somente hoje, no seu dia, poder mentir e dizer “que o mundo é perfeito e que todas as pessoas são felizes”, mas não posso, pois não tens mais a inocência de uma criança e sim a sabedoria dos mais velhos, as vezes tão desvalorizados apesar de tão sábios.

Você tem a felicidade do reconhecimento de todos: de sua família, alunos, colegas e amigos, da sociedade que lhe outorga tantos títulos e lhe rende tantas e justas homenagens.

Neste momento, onde não enxergo o teclado escondido entre tantas lágrimas, posso lhe dizer que a minha mensagem é mais simples do que toda esta digressão.

Dizer apenas que TE AMO e que gostaria de ser para os meus filhos (Guilherme e Clara), o que você é para mim... o norte, o porto seguro, o ídolo, a esperança, a luz, o guia, a paz, o amor, enfim...o meu pai (que lindo pronome possessivo).

Feliz dia dos pais, desculpe não dizer isso todos os dias, pois ainda seria pouco para representar o que sinto por ti. Quem me dera poder acreditar que você é eterno, que nunca me deixará...como no mundo encantado que os pais criam para os filhos para fazê-los felizes. Porém, o mais importante é que você está aqui e de forma plena e total, sendo verdadeiramente o melhor pai do mundo...o meu pai.

Do seu filho,

Roquinho.

Com os cumprimentos da minha nora Daniela e de Maria Clara, na expectativa da chegado de Guilherme.

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MENSAGENS DOS AMIGOS:

Chegou de Edilson Avelino (DIDI):

“Querido Dr. Carlos,

que nesse Dia dos Pais todos os seus filhos estejam bem, com saúde e felizes, pois sei que esse é o melhor presente que Deus pode lhe dar.

Que bom que esse texto mereceu a publicação em seu Blog. Receba o meu abraço especial por esse dia e a minha admiração de sempre.

DIDI'
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"O Pai se escreve sempre com P grande em letras de respeito e tremor se é Pai da gente".

(Carlos Drummond de Andrade)

Feliz "Dia dos Pais"
Bandeira

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Recebi do amigo FLÁVIO REZENDE um belo artigo “Um pai pós-doutor em valores humanos”, oferecido ao seu pai Fernando e que homenageia todos os pais.
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Mensagem telefônica de Eduardo Jorge. Encontros e congratulações das filhas e de Zélia.

Cumprimentos de Honório e esposa, do Dr. Hélio Santiago e filhos.
Telefonema da minha cunhada Rachele Rosso Nelson



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