sábado, 26 de fevereiro de 2011



A conta sairá mais cara
Moacir Gomes da Costa (*)

Chega de mentiras. Se todos querem continuar cegos, como cidadão e urbanista, tentarei restaurar a verdade, como alerta ao povo desta cidade. A sociedade civil precisa saber quanto lhe custará esse “legado” que a CBF/FIFA promete, em nome da Copa 2014, contando com a conivência leviana, ou negligência, dos poderes públicos e da maioria das instituições civis locais.
Primeiramente, por que Natal é obrigada a demolir uma creche, um estádio e um ginásio, todos funcionando, para construir, no mesmo local, uma arena de luxo, quando poderia construí-la em outro espaço mais adequado, barateando custos e poupando tempo, e ainda evitando o insuportável impacto ambiental? A resposta é obvia, mas ninguém quer ouvi-la, ficando a sociedade à mercê de interesses inconfessáveis, sem ninguém para defendê-la.
Em rápida análise contábil podemos deduzir o seguinte: A PMN deu de mão beijada ao Estado, o Machadão e o Machadinho, mais um terreno de 17 hectares que podem ser estimados em mais de R$480 milhões, portanto a cidade começa contabilizando um saldo negativo maior do que a arena que pretendem construir no local.
Nessa orgia irracional, o Governo, ferindo o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade, admite investir na referida arena, a importância de R$ 400 milhões, por meio de uma PPP, na qual o Parceiro Privado recebe do BNDES um empréstimo vantajoso para ser pago em 20 anos, sendo o Estado fiador, dando em garantia imóveis subavaliados em R$370 milhões, valendo mais do dobro, além de um “colchão financeiro” de R$70 milhões, para o empresário construir a arena ficando com a concessão de sua exploração comercial, e sua manutenção e conservação durante o prazo citado.
O Parceiro Privado pagaria o empréstimo com o “apurado da receita imaginária”, além de uma contrapartida do Governo, equivalente a uma prestação mensal, até a quitação do imóvel, que, ao final passaria a seu domínio, consequentemente, tornando-se o Estado, uma espécie de empresário de show business, ou pastorador de um “Elefante Branco”.
Ora, o Estado, “quebrado”, não tem como pagar ao Parceiro Privado, e, sabendo este que não terá as receitas dos grandes espetáculos internacionais, vai ter que lançar mão do Fundo Garantidor Imobiliário que poderá lhe render até R$ 4 mil por m2, dependendo do potencial construtivo de cada área, face à generosa permissibilidade do Plano Diretor da cidade.
Aí poderá estar a grande “sacada”: somando-se o esbanjamento dos patrimônios de Natal e do Estado, pode-se chegar ao astronômico saldo negativo (desperdício) de R$ 1,5 bilhões, valor que, se aplicado racionalmente, mudaria a cara da cidade; todo esse prejuízo justificado como geratriz de uma “visibilidade” em todas as telas do mundo, de 10 mil empregos provisórios por três anos, e ainda, de quebra, três jogos de menor importância, num período de 15 dias, para a FIFA/CBF e seus parceiros se locupletarem da nossa pobreza..
O TCU prevê um estouro significativo nas obras da Copa, (em todo o Brasil) com grandes riscos de aditivos contratuais, sobrepreço, (sic) contratos emergenciais e aportes desnecessários de recursos federais, a exemplo das obras do Pan Rio 2007, estimando-se para Natal o investimento de R$ 983 milhões (Diário de Natal, 11/02/2011). Será que vem de presente?
Mesmo a fundo perdido, esse “legado” ainda seria inferior à espoliação dos nossos bens, podendo ainda ser agravado o desequilíbrio custo/benefício decorrente da hipótese de superfaturamento levantada pelo TCU.
Até aqui se sabe que a prefeita tomou um empréstimo de R$ 370 milhões para infra-estrutura, apelidada de “Mobilidade Urbana”. Como os supostos projetos são guardados em caixa preta, pergunta-se: essa mobilidade urbana, seria um sistema interativo das atividades urbanas básicas, habitação,trabalho, transporte. Lazer, natureza, de forma sustentável abrangente a toda área intra-urbana e metropolitana, ou, serão apenas intervenções pontuais no percurso, turista, aeroporto,arena, rede hoteleira, para iludir o visitante, jogando o lixo pra debaixo do tapete, continuando a cidade esburacada e abandonada como sempre?
Com tantas variáveis ocultas cavilosamente, corremos o risco de ficar sem patrimônio, sem copa, com uma dívida impagável, e com a sonhada “visibilidade” pichada, cabendo assim a pergunta, será que esse despautério compensa?
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(*) Arquiteto.

A propósito desse tema, complementamos o assunto com a notícia abaixo transcrita:
Governo usa petróleo para manter Natal no Mundial
BERNARDO ITRI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Para atrair empresas para a licitação da construção da Arena de Dunas, o governo do Rio Grande do Norte irá oferecer como garantia financeira um fundo vinculado ao lucro proveniente do petróleo do Estado.
No edital, que será lançado em 2 de março, constará que, caso o governo não pague a empresa que construirá o estádio, esse fundo de R$ 70 milhões quitará a dívida. Cada vez que o fundo for usado, será reposto --sempre com dinheiro do petróleo.
"Pensamos em fazer isso para atrair as empresas. Elas desconfiavam da garantia que era oferecida: terrenos. Achavam que eles não tinham liquidez. Agora, não vai haver esse problema", declarou o secretário extraordinário da Copa-2014 em Natal, Demétrio Torres.
No edital anterior, caso o governo do Estado ficasse inadimplente, a construtora da Arena de Dunas receberia terrenos como pagamento.
"Anualmente, o Rio Grande do Norte recebe cerca de R$ 250 milhões da Petrobras pela exploração do petróleo. À medida que for precisando, vamos pegar esse dinheiro para preencher o fundo, que terá de ter sempre R$ 70 milhões", afirma o secretário.
Para Torres, com essa garantia, aparecerão interessados em construir a Arena. "Acredito que seis empresas devem fazer proposta."
O custo da obra da Arena das Dunas está estimado em R$ 400 milhões. Já o encerramento da licitação está previsto para meados de abril.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Matéria publicada na coluna Cena Urbana do jornalista Vicente Serejo no periódico “O JORNAL DE HOJE”, edição de 23 de fevereiro de 2011.

Incansável na sua luta, Ormuz Barbalho Simonetti volta a brandir sua espada na defesa da castanholeira que nasceu e teima em viver ao abandono de todos os cuidados entre as muradas do Viaduto do Quarto Centenário. Uma resistência devia merecer a atenção da cidade.


A TEIMOSIA DE UMA ÁRVORE


Natal, 21 de fevereiro de 2011

"Caro amigo Vicente Serejo:

Hoje completa oito meses que lhe enviei uma carta, contando da resistência de uma castanholeira que havia nascido e crescido, não se sabe como, entre as muradas de concreto que dividem a BR 101, na altura do viaduto Quarto Centenário. Ao final do meu relado fiz a seguinte previsão: “Infelizmente, naquele local ela não resistirá por muitos anos, pois seu tronco não poderá se expandir em virtude da proximidade com as muretas de concreto e logo vai aparecer alguém alegando que seus galhos estão atrapalhando o trânsito, e usará contra a indefesa árvore, o seu impiedoso facão”.

Pois bem, o que eu previ naquela ocasião, aconteceu pouco tempo depois. Alguém foi ao local e abateu a indefesa árvore, que teve seu tronco decepado rente as muretas de concreto. Ao passar no local, lembrei do que havia previsto e fiquei triste e decepcionado. Acalentei a esperança de que a matéria publicada em sua prestigiosa coluna, “Cena Urbana”, fosse despertar e sensibilizar as autoridades responsáveis e ao invés de enviar ao local um algoz, tivesse enviado um salvador, na pessoa de um botânico, para estudar a remoção da castanholeira para o seu local de direito que é na Explanada Silva Jardim, substituindo por merecimento e tradição, a sua ancestral.

Conhecendo a força da natureza e particularmente daquela valente espécime, retornei ao local 30 dias depois, e com alegria pude observar os primeiros brotos que rasgando a sua grossa casca, e se projetavam em vários pontos em torno de seu tronco, em busca dos raios solares. Fiquei feliz! A castanholeira continuava viva. A sua vontade de viver venceu a insensibilidade dos homens. Desse dia em diante, venho acompanhando o seu difícil, mas constante crescimento, que se faz com a mesma intensidade que antes de sua mutilação. Ajudada pela umidade das últimas chuvas caídas na nossa Capital, seus galhos crescem a passos largos e mostram toda sua vitalidade no verdume exuberante exibido do por suas folhas expeças e viçosas.

Caríssimo Serejo, essa valente árvore já mostrou e provou toda sua vontade de viver, talvez no afã de cumprir com sua natureza de crescer e se multiplicar, distribuindo suas boas sementes por nossa Capital, ultimamente tão esquecida e mal tratada pelos seus administradores. Comparo essa árvore, símbolo de resistência e perseverança, com nosso povo maltratado e agredido nos seus mais elementares direitos constitucionais. Explorado de todas as maneiras pelos maus políticos, assolado pelos impostos, que cada vez maiores e mais vorazes, roubam do trabalhador o simples direito até de se alimentar dignamente, para alimentar a máquina corrupta dos governos.

Faço aqui um apelo para que, através da sua respeitabilidade de colunista sério e preocupado com o destino de nossa cidade, possamos iniciar uma campanha em defesa da vida dessa árvore. Faço uso de suas próprias palavras quando publicou minha carta em julho de 2010: “Homenagem ao seu desejo de viver e crescer como um exemplo de resistência no exemplo para todos os natalenses”.

Um grande e afetuoso abraço,

Ormuz Barbalho Simonetti"

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


Cemitério do Alecrim: memória roubada

Com este título, a colunista da Tribuna do Norte, edição do dia 22 passado, Eliana Lima, publicou um desabafo contra o descaso dos órgãos públicos em relação aos nossos cemitérios, em particular, o Cemitério do Alecrim, depositário de parte da memória da cidade.
Em verdade, os cemitérios são lugares sagrados onde estão sepultados os nossos mortos com lápides e jazigos de personalidades que marcaram história em todas as atividades regulares, nas artes, nas letras ou na música, na política, na guerra, na sociedade.
Diz a articulista:
“É o que se pode chamar de ‘arquivo morto’ que revive através da memória e da imponência do descanso eterno de seus moradores famosos, outros nem tanto assim, mas que chamam atenção pela beleza de seus túmulos.
Em Natal, lamentavelmente, o único cemitério que reúne memórias de fatos importantes e marcantes está entregue ao abandono.
Trata-se do Cemitério do Alecrim. Local do último repouso do único presidente República potiguar da história do Brasil: Café Filho. Também do historiador e folclorista Câmara Cascudo, do soldado-mártir Luiz Gonzaga, morto na Intentona Comunista; do ex-prefeito de pé no chão também se aprende a ler Djalma Maranhão, de militares alemães, americanos…(apesar de vários corpos terem sido transferidos para seu países).
Entre tantas, a ‘novidade’ que estarrece: o roubo das lápides de bronze dos pilotos alemães mortos em desastre aéreo no ano de 1931, mais precisamente no dia 12 de setembro. Conta a história que eles vinham do Rio de Janeiro e a aeronave caiu no Rio Potengi. Dos quatro pilotos, três morreram e foram enterrados no cemitério do Alecrim. Hoje, tristemente, 80 anos depois, já não descansam mais em paz.
Pela negligência do poder público, as lápides em bronze – que tem alto valor comercial – foram roubadas.
Para denunciar o descaso, o diretor da Fundação Rampa, Pedro Tavares, foi na manhã desta terça-feira (22) à 1ª DP denunciar a farra bandida.”

Eu comungo com essa 'ira santa' e parabenizo todos os que batalham pela preservação e pelo resgate da memória da nossa terra.Agradeço ao pesquisador Fred Nicolau, que vem difundindo a matéria na internet.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011


CARTA DE ABRAHAM LINCOLN AO PROFESSOR DO SEU FILHO

Caro professor,

Ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos
são verdadeiros, mas, por favor, diga-lhe que, para cada vilão, há
um herói, que para cada egoísta, há também um líder dedicado;
ensine-lhe, por favor, que para cada inimigo haverá também um
amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda
encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória,
afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso
silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também
perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e
os vales.

Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa
vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si,
mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis
e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente
porque os outros também entraram.

Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho,
ensine-o a rir quando estiver triste e explique-lhe que por vezes os
homens também choram.

Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só
contra todos, se ele achar que tem razão .

Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o
verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a
paciência de ser corajoso.

Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois
só assim poderá ter fé nos homens.

Eu sei que estou pedindo muito, mas veja o que pode fazer, caro
professor.

ABRAHAM LINCOLN, 1830

"QUANDO VOCê AJUDA ALGUÉM A SUBIR A MONTANHA, ALCANÇA O TOPO
TAMBÉM."
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Colaboração de Ciro Tavares

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


CONTINUAM ESQUECENDO DO POVO*
De quando em vez tenho ocupado os leitores com algumas reclamações devidas ao descaso com que o Poder Público, Estado e Município de Natal têm tratado o cidadão, sem qualquer resultado positivo. O ano passado, escrevi artigos com o título “Esqueceram do Povo”, “A mentira tem pernas curtas” e outros. E daí!!!!!! Não deu em nada!
Posso até arriscar dizer que o produto mais valorizado entre nós é “A MENTIRA”, pois qualquer Secretário de Governo que seja entrevistado sobre os reclamos do povo, sempre tem um discurso preparado para as justificativas mais deslavadas e garantindo solução em determinado prazo. Vencido este, quando a imprensa retorna à cobrança, novo discurso já está preparado.
E assim continuamos com buracos nas ruas, estradas estaduais recém reparadas, com novas avarias, novo pavilhão inaugurado em Alcaçus com muita zoada, interditado pelo Ministério Público, ambulâncias nas garagens, sem uso, e o povo sofrendo, corredores de hospitais superlotados, falta de remédios básicos, escolas em péssimo estado de conservação, greves de professores no início do ano letivo, ITEP com cadáveres ao ar livre, DETRAN que sabe multar, mas não repara os semáforos e nem atende às reclamações (ainda no dia 21 passado, na confluência de ruas onde funciona o Hospital do Coração, um semáforo “travado” desde a madrugada- pelo menos até às 11 horas com saí daquele hospital ainda estava valendo o buzinasso) e muitas e muitas outras mazelas continuam aí, o que seria enfadonho relacionar.
Enquanto isso, os nossos formidáveis parlamentares continuam disputando cargos, apadrinhamentos, negociatas de mandatos, infidelidade partidária, gastos vergonhosos entre eles, a imprensa publicou que um Vereador custa mensalmente cerca de R$ 52.000,00, mas o salário-mínimo é de R$ 545,00 - vergonha, vergonha, vergonha.
A Prefeita, em sua mensagem do exercício confessou que esqueceu de colocar dotação para o setor cultural. Enquanto isso o Governo Federal já nos mandou Fernandinho o Beira-mar. A refinaria não veio, o aeroporto de São Gonçalo do Amarante está na fase do blá, blá, blá, mas o Ministro Orlando Silva afirma que Natal está dentro do cronograma para a Copa do Mundo de 2014. E aquele super secretário parecido com um “Cururu de Lagoa” está de férias – tanto faz, porque quando não está só cria intriga.
Derrubem logo a m. do Machadão e deixem o buraco aberto para enterrar esse lixo fenomenal que existe na administração pública e guardem espaço para alguns negociantes oportunistas que só enxergam $$$$$$, mas não investem nada dos seus bolsos.
E as operações - isso ou aquilo viraram “Operação Tartaruga” – “Roda, roda e vira, solta a roda e vem. Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém ... “.
____________________
*CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES – advogado natalense

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011



Quando te vais
Pedro Simões Neto - Natal/RN


Quando te vais
um genocídio
defloresce
milhares
de tu e eu.
Ocasiono-me
então,
enquanto
amanheces
prematura
madrugada.


Desabitado
encho-me
de um vazio
cheio de azul
da tua ausência.
Sou pássaro
desnidificado,
seca
cigarra
invernada
tanto
que não se cantou.


Quando voltas
o dia
habita em mim.
Cheiro os sons
escuto as cores
degusto
as miragens,
desconstruo
as palavras
inúteis
ociosas
e precárias.


Nunca te vás
de mim
amor
para que
não me
ensombreça
carente
de essência
nem me enraíze
nas cinzas
do nada
negando-te
o húmus
da tua
frutificação
o fruto
da minha
redenção.


Pedro Simões Neto, escritor, educador, advogado -
estudioso da história e pesquisa dos nomes e fatos
da literatura norte-riograndense e brasileira.
psimoes.neto@hotmail.com




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DIDI AVELINO

A propósito dos últimos artigos que escrevi, abordando a música popular nordestina, resolvi aproveitar a passagem por Natal de Edilson Avelino dos Santos, conhecido artisticamente como "Didi Avelino", para lhe prestar a minha homenagem.
Numa determinada noite de insônia, em 2009, estava eu navegando pela internet, buscando subsídios para um dos livros que estou escrevendo e resolvi colocar no computador nomes de pessoas com quem convivi na era de ouro do rádio potiguar. Assim consegui dados preciosos sobre Paulo Molin, pernambucano de nascimento, mas que teve grande sucesso em nosso Estado, falecido em 2004 em Quaxupé-MG.

(Foto da família de Paulo Molin)
Depois consegui outras informações sobre outras pessoas do mundo artístico. Então, ao procurar algo sobre Edmilson Avelino, um dos melhores garotos cantores do meu tempo, recebi de volta indicações sobre a pessoa de Didi Avelino e, ao ler as reportagens, constatei que era irmão de Edmilson.
Tentei contato com ele e senti alguma reação, pois residindo no Rio de Janeiro há muitos anos, deve ter estranhado aquele inusitado e-mail. Sentindo a eventual desconfiança, retruquei enviando fotografias de Edmilson, com afetuoso oferecimento a mim, o que de imediato abriu o coração de Didi, que prometeu vir a Natal e então conversarmos sobre variados assuntos. E assim fez, no final de 2009, quando fiz uma recepção em minhas residências de Natal e Cotovelo, regado a boa música, com a presença de Domilson e Iara Bastos, Leide Câmara, músicos natalenses, familiares e amigos. Posteriormente fizemos um programa "Memória Viva", por gentileza de Tarcísio Gurgel, que descobriu ser parente de Didi e não o conhecia. Por fim fizemos um belo espetáculo no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto, com casa cheia.
Retornando ao Rio, Didi prometeu repetir a dose no ano seguinte e voltar à nossa terra. Realmente retornou ao nosso Estado neste começo de 2011. Desta feita, no entanto, não teve tempo para a renovação daquele congraçamento, mas apenas um ligeiro encontro em Cotovelo, juntamente com seu sobrinho Hudson. Ontem me telefonou e disse que já está de partida, mas prometeu retornar no meio do ano. Vou esperar ansiosamente, pois foi um novo e bom amigo que consegui já no outono da minha existência.
Mas, quem é esse Didi Avelino? Vou dar algumas dicas:

Da internet colhi uma entrevista no blog Walrus no Samba, de Guilherme Barbosa Pedreschi, na série “Perfis”, o qual declara que Didi é conhecido no Rio de Janeiro como o “Voz de Veludo” – talento ímpar que abrilhantou o seu disco "Relicário" (2006), dividindo vocais comigo na faixa "Além do Papel". E continua:

"Edílson Avelino dos Santos, o “Didi", nascido em 28/04/1952 em Natal/ RN é bacharel em Direito(UFRJ), artista plástico/design gráfico e cantor.

Arte e música vieram de berço: seu pai foi poeta e colunista de jornais potiguares, no antes e no pós II Guerra Mundial. Sua mãe cantava e se acompanhava ao violão “da família”. Já Edmilson Avelino, o irmão mais velho, foi considerado “garoto prodígio” nos anos cinqüenta, cantando e gravando aos quatorze anos de idade.

Didi participou de festivais de música no final dos anos sessenta e início dos anos setenta. Chegou ao Rio em 1977. Abraçou o Salgueiro como escola de coração, estudou técnica vocal de 1987 a 1989, na Escola de Música “Cenário”(Botafogo) do pianista e arranjador Tomás Improta, no curso Microfone – Preparação do Cantor Popular, criado pelas professoras Suely Mesquita, Rita de Cássia e Arícia Mess, além de ter visto (e participado, é claro) de muita coisa boa nesses mais de 30 anos no Rio de Janeiro.

Didi, o que despertou o seu amor pela música?

Nasci e cresci num ambiente propício à arte, particularmente, à música e à poesia. Impossível não ficar “corujando” as reuniões musicais e os recitais de poesia promovidos pelo meu pai e amigos. Como dizia a minha mãe, “aqui até o papagaio canta e declama!”. Esse meu gosto pela música vem de longe.

Que espetáculos musicais, rodas de samba te marcaram, ao longo desse seu período no Rio?

Ainda era brabeza, visto que os generais ainda ditavam a ordem do dia. Isso ficou bem evidente quando ingressei na Faculdade Nacional de Direito, berço da rebeldia e da contestação estudantil ao regime da época. Comecei bem as minhas andanças pelos shows em cartaz no Rio, afinal, o primeiro que vi foi “Tom, Vinícius, Toquinho e Miúcha” no Canecão. O pior era que as ofertas em cartaz me seduziam, mas, evidentemente, fui “administrando”, pois a grana era curtíssima. O primeiro contato in loco com o samba e com o choro, no Rio, foi em Botafogo, onde resido até hoje. Tive o privilégio, através de um amigo, de conhecer o antológico Cantinho da Fofoca, à Rua Rodrigo de Brito, nº 9, onde ficava a pensão do Seu Alcides. No quintal, em torno de uma grande mesa, sambistas e chorões, enchiam o ar de música e poesia. Lá freqüentavam Walter Alfaiate, Mauro Duarte, Noca da Portela, Paulinho da Viola, além de outros bambas marcantes de Botafogo como Micau, Anunciato, Basílio e outros. Gostaria de ter freqüentado mais, entretanto, recém chegado ao Rio, a prioridade era trabalhar e estudar. Nessa época, a Portela ensaiava no Morisco e os fins-de-semana eram uma overdose de samba, claro!

Samba: qual a importância na sua vida?

Nunca simpatizei com atitudes radicais, sobretudo na música. Acho que num país como o nosso, tão rico em ritmos e estilos musicais, não é produtivo ser purista ou segregacionista. O exemplo a seguir vem da miscigenação do nosso povo. Daí nós termos belos exemplos de diversidade musical que nos faz entender quão importante essa fusão de ritmos e estilos. Um país que dá Cartola e Candeia, também dá Tim Maia e Jorge Benjor. Onde nasce um Tom Jobim também floresce um Pixinguinha. E os exemplos se sucedem. Assim, nesses meus cinqüenta e seis anos de paixão pela música popular brasileira, tenho direito adquirido de declarar o meu definitivo amor pelo samba. Devo isso ao Rio, não nego, pago quando puder.

Cite alguns dos seus compositores preferidos:

Sou daqueles que acredita no “casamento musical perfeito”, daí a minha predileção por duplas imbatíveis na arte de compor MPB: Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, Jackson do Pandeiro e Almira Castilho, Tom Jobim e Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Edu Lobo e Chico Buarque, Baden Powell e Vinícius de Moraes, João Nogueira e Paulo César Pinheiro, João Bosco e Aldir Blanc, Claudionor Cruz e Pedro Caetano, Nélson Cavaquinho e Guilherme de Brito, Paulinho da Viola e Elton Medeiros e outras parcerias antológicas. Há também alguns cuja genialidade, na maioria das vezes, se basta em si mesma: Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Lupicínio Rodrigues, Chico Buarque, Cartola, Ary Barroso, Caetano Veloso, Gilberto Gil, enfim.

Claro que a lista estará sempre incompleta, graças a Deus, pois o Brasil é o país com a maior e mais linda diversidade musical do planeta. Uma coisa é certa: só canta e grava coisa ruim quem quer, nunca será por falta de opções.

Um cantor: Renato Brás
Uma cantora: Gal Costa
Um instrumentista: Paulo Moura
Um grupo musical: CAMERATA CARIOCA
Um show histórico: SAUDADES DO BRASIL.Vi Elis Regina pela última vez
Música preferida: Aquela que emociona e a memória acolhe

Qual foi o momento de maior emoção na sua vida?

Foi em 2003, num show no Leblon. Havia recebido o diagnóstico médico de doença grave, poucos dias antes do show. Apesar do drama que enfrentava, resolvi que iria cantar. A casa cheia, inclusive de amigos solidários, e eu lá cantando... Firme, o quanto pude. Só não deu pra esconder as lágrimas na canção do Edu Lobo e Torquato Neto “Pra dizer adeus”(que já estava, por mórbida coincidência, no repertório). Sabe Deus porquê estou aqui contando essa história que, graças a Ele, foi superada.

Seus projetos, sonhos e planos musicais são realizados por impulso, paixão ou por amor, com atenção especial à técnica?

Plagiando Jorge Mautner, eu diria que sou uma hemorragia de emoção, especialmente na música. Acho que sou mais intérprete do que cantor, pois estou sempre disponível à emoção. Talvez por ser assim, o que me impulsiona a planos e projetos é a paixão. E não creio que técnica e emoção sejam incompatíveis, sobretudo, no ofício de cantar.

Como vê o atual cenário da música brasileira?

O Brasil será sempre um celeiro de bons cantores, especialmente, de cantoras. Nesse aspecto, creio, estamos muito bem servidos. Entretanto, sem querer ser saudosista, já tivemos mais fartura de compositores, e de excelente qualidade, é bom frisar.

Numa pergunta anterior citei algumas duplas famosas de compositores que, por uma ou outra circunstância, foram desfeitas e isso interfere de alguma forma na “fonte” da criação. Não estou sugerindo nenhuma escassez, apenas constatando uma “entressafra” na arte de compor. Também não me refiro ao mercado fonográfico, nem às suas variáveis complexas, mas à criação, a produção da composição mesmo. Qual dos nossos compositores consagrados está criando regularmente? Citaria tão somente os extraordinários Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho. Quem mais, com a mesma qualidade e regularidade? Se observarmos com atenção devida, nunca se regravou tanto no Brasil como agora. Não será isso um indicador sutil dessa “entressafra” ?

No mais, a nossa música popular está muito bem. Ótimas revelações, tanto de compositores quanto de intérpretes, movimentos sólidos de formação de novos músicos – louve-se a iniciativa de criação da Escola Portátil de Música, o “renascimento” da Lapa, que impulsionou e deu visibilidade maior ao samba e ao choro, fenômeno que se alastra por todo o país, enfim. Tudo isso nos dá a esperança de continuarmos colhendo bons frutos dessa fértil e frondosa “árvore” que é a MPB.

Qual a sua relação com o carnaval? Brincou muito?

Na adolescência brinquei em blocos, tempo em que o carnaval de rua era a opção principal, pois a possibilidade de estar com amigos de colégio, de rua, de futebol, era concreta. Além do que carnaval de clube nunca foi meu forte. Depois descobri a escola de samba e me apaixonei! Nessa época, a escola de samba (Malandros no Samba) da minha cidade cantava o samba do Rio que caísse no gosto popular, ou seja, aquele que tocasse no rádio com maior freqüência. Lembro que em 1970, entoamos o antológico samba da Portela “Lendas e Mistérios da Amazônia”, de Catoni, Jabolô e Valtenir, e foi um sucesso! Até hoje sei de cor. Final dos anos setenta e lá vim eu para o Rio, berço e matriz de tudo com que sonhei: Escolas de Samba. E, como disse anteriormente, fui premiado por vir morar em Botafogo e ter nos finais de semana os ensaios da Portela. E eu me esbaldava até brilharem os primeiros raios de sol. Aliás, devo esclarecer que, diferentemente do futebol, a minha simpatia pelo Salgueiro não me impede de admirar outras escolas. Já assisti desfiles na avenida que outras escolas me emocionaram bem mais que o Salgueiro, e posso exemplificar com o desfile da Vila Isabel, em 1988, com o enredo “Kizomba, a Festa da Raça” ou a Mangueira com o enredo “Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm”, de 1986. A escola de samba na avenida é um contexto e, muitas vezes, a razão se alia à emoção de tal forma que não nos impede de avaliar, com isenção, a campeã, aquela que nos arrebata. Desfilei algumas vezes, mas a emoção de ser jurado foi algo novo e diferente em todos os sentidos. Em 1989 fui convidado pela Riotur para julgar o quesito Alegorias e Adereços do Grupo A. Fiquei lisonjeado com o convite e dessa maravilhosa experiência guardo, até hoje, o crachá como recordação. No ano aeguinte fui novamente convidado, mas, no momento do convite, estava passando férias em Natal. Contudo, gostaria de repetir a experiência.

Conta pra gente um pouquinho da sua trajetória musical:

No início dos anos oitenta, participei como vocalista do grupo “Razão Musical”, liderado pelo violonista Fernando Rangel. Era um quinteto cujo repertório ia do pop ao samba tradicional e fizemos shows no Rio e Cabo Frio. Com a morte prematura de Fernando, passei dois anos sem cantar formalmente, participando apenas como convidado ou de “canjas” em shows de amigos músicos, no Rio e em Natal. Em 1987 iniciei o curso de técnica vocal, e, posteriormente, fiz backing vocals em discos de amigos. Em 1996 fui convidado para ser o vocalista do grupo “Feitio de Oração”, quinteto cujo repertório era basicamente choro e samba. Tocamos, praticamente, em todas as casas do chamado Circuito Lapa, no período em que se estruturava todo o movimento musical que hoje é uma realidade. Lembro que tocávamos no Bar Semente, onde também se apresentavam Teresa Cristina, o grupo do Zé Paulo Becker, Daniela Spielmann Trio, o grupo Tira a Poeira, enfim, foi um período rico de intercâmbio musical que plantou as sementes, sem trocadilho, do renascimento da Lapa. Sinto-me honrado de ter participado desse processo. Ainda no “Feitio de Oração” fizemos a Sala Funarte e shows fora do Rio (Búzios, Maricá, etc.).

Um momento que me lembro com carinho foi o convite de Jailton Mangabeira, em novembro de 2002, para que eu abrisse um show no Teatro João Caetano onde a estrela do espetáculo era a Velha Guarda do Império Serrano, de bambas da Serrinha como Zé Luiz, Aluízio Machado e Ivan Milanez. No final de 2002 me afastei da música para cuidar da saúde. Graças a Deus, deu tudo certo e cá estou contando um pouco do que vivi. Atualmente estou em processo de pesquisa e montagem de novo repertório. Quem sabe, voltarei a cantar em breve... Aliás, quero cantar pra manter a alma acesa.

Possui registros em LP ou Cd's? Quais?

Como disse anteriormente, fiz “backing vocals” em discos de amigos(LPs de Jarlene Maria, Rogério do Maranhão, etc.), e a mais recente participação foi no CD do meu amigo Guilherme Barbosa, um compositor dos mais promissores, pois ainda é muito jovem, e um criador por excelência. Sua mais recente criação é este Blog que eu reputo um dos melhores na área da música e das artes em geral.

Um sonho:

Gravar um disco autoral com a obra de um grande compositor que a mídia brinca de esquecer. O nome eu não posso dizer, pois todo sonho tem seus segredos."

Contato: didiavelino@globo.com
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Amigo Didi,
Minha homenagem e até breve, se Deus assim o permitir.
Um grande abraço de Carlos Gomes

domingo, 20 de fevereiro de 2011


ANDANTE
Ciro José Tavares

Cavaleiro sou, castelos conquistei
e corações das damas com canções de amor.
As inquebráveis cordas do alaúde,
São dos cabelos de Dandrane, irmã de Parsifal,
meu condutor na jornada à Terra Santa
para juntos encontrarmos o cálice sagrado,
com o sangue recolhido do corpo de Jesus.
Na volta ao rei mostramos mãos vazias, sonhos fugidios.
E vaguei por vagar, além do Mosela e do Loire,
ouvi nas cantigas das ninfas as lembranças.
Longos vestidos rendilhados das senhoras,
O crepitar dos archotes suspensos nos salões,
a suavidade musical das sarabandas,
o arrebatamento no bailado dos casais,
diáfanas brumas dos albores nas campinas,
vésperas sob vermelhos e amarelos dos ocasos,
luz dos plenilúnios derramada nos jardins,
a beleza céltica dos gestos refletida nas donzelas.
Cavaleiro fui, consumido pelo tempo,
Que me fez cúmplice da dor e da saudade,
Andarilho solitário, vigia de estrelas.
E vaguei por vagar despido de escudos e armaduras,
na busca do Santo Graal que jamais encontrarei.

Fevereiro de 2011.