segunda-feira, 30 de abril de 2012

IGREJAS DE LONDRES [2-2]
postado por O Santo Ofício

abril 29, 2012

Por Marcelo Alves Dias de Souza

Conforme prometido na semana passada, vai, com alguns comentários bem pessoais, uma lista das minhas igrejas preferidas em Londres. Para a elaboração dessa lista, levei em consideração apenas a Londres que frequento e, posso dizer, conheço um pouco. Não quero fazer ninguém se perder, sobretudo após minha experiência por esses dias nas igrejas do arquiteto Hawksmoor (coisa que, qualquer hora, já passado o trauma, contarei aqui. Prometo).
Em primeiro lugar, destaco a St Paul’s Cathedral, a obra-prima de Sir Christopher Wren (1632-1723), construída entre 1675 e 1710 e hoje sede do bispado (anglicano) de Londres. Como disse anteriormente, a sombra da grande catedral por muitos anos dominou – e de certa forma ainda domina – a vida londrina. Referida muitas vezes na literatura, alvo fácil durante os bombardeios da 2ª Guerra Mundial, ela sobreviveu, com poucas cicatrizes, às intempéries do tempo e dos homens. Gigantesca, em forma de cruz, é encimada por um domo (cúpula) que se enxerga de longe. O teto, por sobre o altar e o coro, é de embasbacar. A sua acústica é espetacular. Grandes homens do Reino, como o Almirante Nelson e o Duque de Wellington, estão ali enterrados. Lá também está o próprio Wren. Para ele, uma pequena placa diz: se você procura um monumento em homenagem ao grande arquiteto, basta olhar ao seu redor.

Empatada em primeiro lugar com St Paul’s, ponho a Westminster Abbey (Abadia). Conhecidíssima, ela fica na Parliament Square, bem pertinho do prédio/palácio do Parlamento e do Big Ben. Aliás, para os interessados em Direito, na mesma praça também está a novíssima Suprema Corte do Reino Unido. Construída ao longo dos séculos, o estilo predominante na Abadia é o gótico. Mas ela é, sobretudo, um testemunho em pedra da história do Reino Unido, desde os tempos de Eduardo – o Confessor (que teria iniciado a reconstrução da igreja entre os anos 1042-1052) até o casamento do Príncipe William e Kate no ano passado. Minha sugestão é pegar o aparelho de som que eles fornecem (com narração em português) e seguir as tumbas e os memoriais de reis e rainhas, de cientistas como Isaac Newton (1643-1727) e Charles Darwin (1809-1882), de políticos como Oliver Cromwell (1599-1658), indo até o “poets’ corner”, onde descansam gente do top de Geoffrey Chaucer (1343-1400), Samuel Johnson (1709-1784) e Charles Dickens (1812-1870).

Outra igreja que certamente vale a pena conhecer é St Martin in Fields, obra de James Gibbs (1682-1754). Fica na Trafalgar Square, disputando a atenção com a colunata da National Gallery. Para os amantes da música clássica, então, é um achado. St. Martin in Fields é conhecida pelos concertos de Bach (1685-1750), Handel (1685-1759) e outros menos votados. Indo lá, em dia de apresentação, você irá se emocionar. Que o diga um conhecidíssimo jurista da terrinha, amigo nosso, que restou aos prantos com a interpretação da “Aria na Corda Sol da Suíte Orquestral nº 3” do criador dos “Concertos de Brandenburgo” (e qualquer dia conto esse “causo” por aqui. Prometo).

Também recomendo uma passada na St Paul’s Church em Covent Garden (não confundir com a Catedral de mesmo nome), do arquiteto Inigo Jones (1573-1652). Essa igreja tem um apelo especial para os que gostam de literatura: sob seu pórtico, se passa a primeira cena da famosa peça “Pygmalion” (1913), de George Bernard Shaw (1856-1950). No mais, ela dá de frente para a mais animada praça-mercado de Londres (Covent Garden), com suas lojinhas, cafés e pubs de estilo. A ideia aqui é unir o sagrado e o profano (já que ninguém é de ferro).

Pertinho da biblioteca da minha universidade (a Maughan Library, a mais bela de Londres, valendo também uma visita), ainda destaco mais duas igrejas. A St Bride Fleet Street, pequena obra-prima de Wren, que visitei na sexta-feira santa. Dizem ser, desde o ano de 180 DC, a 8ª igreja construída naquele mesmo lugar. Pela sua localização nas imediações da Fleet Street, no passado a rua dos jornais e impressos londrinos, é oficialmente a igreja dos editores e jornalistas. Mas sua ligação com as letras não para por aí: o poeta John Milton (1608-1674) ali morou em um prédio adjacente da paróquia, o memorialista Samuel Pepys (1633-1703) foi lá foi batizado e por aí vai. A outra é a Temple Church ou Igreja dos Templários. Relacionada com os antigos cavaleiros templários e as cruzadas, foi erigida no Século XII. Talvez vocês se recordem dela em “O Código Da Vinci” (2003), de Dan Brown. Para os ligados ao Direito ela tem um apelo especial: é a igreja tanto do “Inner Temple” como do “Middle Temple”, duas das mais antigas sociedades de advogados inglesas (as chamadas “Inns of Court”). A ideia aqui é unir o sagrado ao, digamos, profissional/cultural.
Para os católicos (o que é o meu caso), ainda resta a Catedral de Westminster (não confundir com a Abadia de mesmo nome), sede principal da Igreja Romana em Londres. Fica bem pertinho da estação (de trens e metrô) Victoria. Embora não tão bela quanto a Catedral de St Paul, ela vale, por fé ou simples curiosidade, uma visita.

Bom, não custa nada, para aqueles que virão para as Olimpíadas, fazer uma fezinha de outra natureza. Minto: pode custar um pouquinho. Ao contrário da maioria dos museus, que são gratuitos, o acesso a algumas igrejas de Londres é pago. O inverso do que se dá em Paris, acho, onde as igrejas são gratuitas e os museus, pagos. Mas os arrecadadores da Igreja anglicana dão uma explicação para isso. Apenas a manutenção da St Paul’s Cathedral, que sobrevive exclusivamente do que é arrecado com as visitações, custa 7 milhões de libras ao ano. São cerca de 1,5 milhão de visitantes ao ano, custando 15 libras a entrada padrão de um adulto. Acho que, com os descontos para estudantes, idosos, crianças e assemelhados, a conta bate. Pelo menos, assim eu espero.
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Marcelo Alves Dias de Souza é Procurador Regional da República, Mestre em Direito pela PUC/SP e Doutorando em Direito pelo King’s College London – KCL



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