segunda-feira, 30 de julho de 2012

Bartolomeu Correia de Melo: 
a simplicidade de um sábio


Lívio Oliveira – Procurador Federal e Escritor
livioliveira@yahoo.com.br

Conheci Bartolomeu Correia de Melo, o grande Bartola (como o chamavam os amigos), na Cooperativa Cultural do Campus da UFRN, há mais de dez anos. Possivelmente, não lembro com exatidão, o excelente contista me foi apresentado pelo livreiro Luiz Damasceno ou pelo professor e escritor pernambucano Carlos Newton Júnior, que presidia a Cooperativa naquela época.

Posteriormente, o próprio Bartolomeu presidiu a entidade que mantém a importante livraria incrustada no Centro de Convivência do Campus. Foi ali, em meio ao burburinho do bom comércio dos livros, que comecei a ter mais contatos com o saudoso professor universitário e escritor de contos e de livros essenciais na biblioteca de qualquer que ame a literatura de melhor qualidade produzida no Nordeste, como fazem exemplos “Estórias Quase Cruas”, “Lugar de Estórias” (premiado pela UBE/PE) e “Tempo de Estórias”, ambos publicados pela Editora Bagaço, de Recife (foi autor, também, vale lembrar, de belos livros infantis).

Eu conversava – durante o tempo em que presidiu a Cooperativa – quase que diariamente com o escritor, fascinado pela sua sabedoria e pela sua forma simples de ver a vida e de lidar com o mundo das letras, sem arrotar erudições falsas. Percebia em Bartola um sempre muito saudável e sábio distanciamento daquela conhecidíssima vaidade presente no mundo intelectual. Não se revestia da soberba que alguns alimentam em torno de seus próprios umbigos.

Era um escritor que realmente vivia em busca das belezas mais tranquilas, mais sóbrias, sem ser metido, sem ser inconveniente. Simplesmente, amava a literatura. E não somente a prosa, basta perceber a escolha de epígrafes que encimam os seus contos, muitas retiradas de textos poéticos.

Não sei em que medida o fato de ter sido um profissional e um acadêmico numa área tão distinta como a da Físico-Química estabeleceu o comportamento especialíssimo de Bartolomeu; mas sei que a sua visão e a forma como se guiava por entre mundos que teimam em ser cruéis e ingratos, como são o da academia universitária e o da literatura, eram sempre baseados em uma posição serena que permitia manter um centro de equilíbrio quase que perfeito, favorecendo o criar literário em detrimento da vida literária.

O que importava para Bartolomeu era a criação literária, era o tecer do texto, era encontrar as soluções mais simples e sábias (e, evidentemente, belas) para os contos que trazia diante dos nossos olhos deslumbrados.

Por ocasião de uma das versões do Encontro Natalense de Escritores (ENE), em 2007, tive a oportunidade de – convidado por Dácio Galvão – contribuir com algumas sugestões de mesas de debates. Propus, na ocasião, pelo menos uma que foi prontamente acolhida: “A prosa nordestina e seus aspectos”, destacando os nomes de Ronaldo Correia de Brito, Francisco Dantas, Humberto Hermenegildo e, claro, Bartolomeu Correia de Melo.

Esse foi um dos meus maiores orgulhos intelectuais.

Dois outros orgulhos – que guardo com um carinho acima da média – foram: ver um trecho de um poema meu encimando o conto “Desafogo”, do livro “Tempo de Estórias” e ter participado como jurado (a convite de Bartola) de um concurso de poesia da Cooperativa do Campus, ao lado de Luiz Damasceno e do grande poeta Jarbas Martins.

Minha saudade desse homem e escritor é vasta como os verdes de Ceará-Mirim, terra onde foi criado e que amava profundamente, a ponto de torná-la o principal cenário de seus escritos. Acredito que ainda temos muito – os escritores e leitores – a aprender com Bartolomeu Correia de Melo e seu importante legado construído de palavras e sabedoria.

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