quinta-feira, 23 de agosto de 2012


O ATAQUE DE LAMPIÃO A MOSSORÓ.
UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO.

Honório de Medeiros
UM MISTÉRIO QUASE CENTENÁRIO!

Em dias do início do mês de maio do ano da graça de 1927, pelas terras do Rio Grande do Norte que confrontam com aquelas da Paraíba, lá no alto Sertão desses estados, mais precisamente as que ficam entre as cidades de Uiraúna e Luis Gomes, vindos de Aurora, no Ceará, Cariri velho de Nosso Senhor Jesus Cristo, eles, os cangaceiros, entraram no território potiguar.
Era uma horda selvagem com aproximadamente uma centena de homens, para o mais ou para o menos, imundos e bestiais, a cavalo, fortemente armados, portando rifles, fuzis, revólveres, pistolas, punhais longos e curtos, e farta munição. Vinham ébrios, ferozes, e sedentos de violência, sem qualquer outro propósito que não a rapinagem, pura e simples.
E assim entraram.
Durante os quatrocentos quilômetros e quatro dias que durou a epopéia, deixando e voltando à Aurora após alcançarem Mossoró,  desenharam, com a ponta dos cascos dos cavalos ou a face externa das alpargatas com as quais pisavam o chão, como que um movimento cujos contornos lembram o de uma flor de mufumbo, cujas laterais seriam as margens da Serra de Luis Gomes e Serra do Martins, por um lado, e, pelo outro, as margens do serrame do Pereiro, limites com o Jaguaribe, Ceará adentro.
Espalharam o terror por onde passaram.
Humilharam, surraram, feriram, extorquiram, seqüestraram, furtaram, roubaram, mataram...
Em toda a história do cangaço, complexa e específica por si mesma, nada há igual.
Não foi um ataque qualquer a um arruado, vila ou povoação. Nem mesmo a uma cidade pequena.
Foi um ataque a uma cidade de grande porte para os padrões da época, bem dizer litorânea, a segunda maior do Rio Grande do Norte, com quatro igrejas, três jornais, agência do Banco do Brasil, população que rivalizava com a da capital do Estado, um comércio rico e pujante, que funcionava como centro para o qual convergiam paraibanos, norte-rio-grandenses e cearenses, e, por intermédio do porto de Areia Branca, ao qual se chegava pelo Rio Mossoró ou Apodi, caso necessário, o Brasil todo.
Mossoró não acreditava que tal ataque pudesse se concretizar. O Governo do Estado do Rio Grande do Norte também não. Era inconcebível. O Brasil, representado por sua capital, o Rio de Janeiro, quedou perplexo.
Tanto anos depois é possível algo novo quanto às causas que levaram Lampião a empreender esse ataque?


Os cangaceiros acima foram nominados por Jararaca, a quem a fotografia foi mostrada enquanto ele convalescia, preso em Mossoró, pouco antes de morrer

De antemão, que se diga: não é consenso que haja mistério quanto às causas do ataque de Lampião a Mossoró. 
Ao contrário. Excetuando-se algumas vozes isoladas aqui e ali, outras ouvidas aos sussurros em Mossoró[1], é prática corrente atribuir à ganância de Lampião, Isaías Arruda e Massilon – este com papel secundário, a existência do episódio.
Entretanto ao estudarmos com atenção redobrada, até mesmo com obstinação, o acervo do qual dispõem os pesquisadores, constata-se a existência de questões, dúvidas, perplexidades, que insistem em aparecer desafiando o passar dos anos e a natural inércia originada das versões consideradas consumadas. 
Levando-se em consideração todas essas questões, após tê-las colhido, assim é que, a seguir, dando-lhes o tratamento mais racional e factual possível, buscando a isenção necessária à qual se deve ater quem busca encontrar a melhor explicação entre várias concorrentes, são elas elencadas, analisadas e colocadas à disposição do leitor, para que este possa fazer sua escolha ou, se não for o caso, meramente ser colocado a par de suas existências.
Há, portanto, e basicamente, quatro teorias acerca das causas do ataque de Lampião a Mossoró: 
(i) o ataque a Mossoró resultou da ganância do Coronel Isaías Arruda e de Lampião, no que foram secundados por Massilon;
(ii) o ataque a Mossoró resultou unicamente da cobiça de Massilon.
(iii)          o ataque a Mossoró resultou da paixão de Massilon por Julieta, filha de Rodolpho Fernandes;
(iv) o ataque a Mossoró resultou de um plano político.
Qual delas é a verdadeira?
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[1] Notável exceção é o pesquisador Marcos Pinto, autor de “DATAS E NOTAS PARA A HISTÓRIA DE APODY” natural de Apodi, mas residente há muitos anos em Mossoró.
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Publicado por HONÓRIO DE MEDEIROS "Sapére Audi”

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