domingo, 14 de outubro de 2012


CHUVA DE POESIAS
  CHUVA DE POESIAS
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"NOTURNO INFINITO" 


DIAS INFINDOS
NOITE FINITA
GOTAS DE SOL 
NA TERRA CAINDO

E ENQUANTO A ESPERANÇA
LEMBRANÇA DE ONTEM
CHEGAVA BEM PERTO DE MIM
QUASE ADORMECIDO
NO MEU QUARTO DE HOTEL
OS LIVROS PENDURADOS EM SEUS LUGARES
SE OFERECIAM UM A UM
PARA DESVENDAR SEUS MISTÉRIOS

DIAS INFINDOS
NOITE FINITA
GOTAS DE SOL 
NA TERRA CAINDO



A PORTA DA ILUSÃO ESTAVA ABERTA
À ESPERA DO INTRUSO QUE PASSASSE
NO CÉU TODA ESTRELA É PÁLIDA
NA TERRA TODO RIACHO MORRE
NO MEU PENSAMENTO 
AS LEMBRANÇAS DE TODAS AS MULHERES QUE AMEI
RECRIAVAM MAIS E MAIS
A IMAGEM DO PASSADO ABANDONADO 

DIAS INFINDO
NOITE FINITA
GOTAS DE SOL
NA TERRA CAINDO

E AGORA 
ENQUANTO MISERANDO
EU VOU PARTINDO
LEMBRANÇA DO AMANHÃ
SAUDADE DO DEPOIS
EU CANTAREI MEU CANTO
PRANTO
À ESPERA DO ONTEM ADORMECIDO
AURORA 
SOLIDÃO
FUTURO QUE PASSOU



MAIA PINTO
LIVRO CANTO DA (QUASE) AURORA
RECIFE, SET/81






MEU TERRAÇO


DIREITO SAGRADO DOS MENINOS

Antigamente todo menino tinha um direito legítimo ou imaginário 
de ter um terraço ou um quintal com muro ou cerca de arame 
protegendo 
o pé de árvore para brincar a sua infância:

Caju florindo no fim de ano

Ninhadas de galo de campina

No terraço tinha muita brincadeira

De menino e menina.

Eles se divertiam na árvore

Ou no sol escaldante

A mãe dizia:'pra dentro de casa!'

Isso era humilhante.

Meninos brincando

Cheios de esperança

Hoje são adultos

Só existe na lembrança.

Os meninos de hoje

Não têm quintal

Seja nas cidades ou nas vilas

Só no mundo virtual.

É triste, a árvore morreu

O quintal se acabou

O pássaro desapareceu

O menino se informatizou.



Marcos Calaça, jornalista (UFRN)


DO MESTRE RAIMUNDO CORREIA

As Pombas*
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
Das pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais, de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam
Os sonhos, um a um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais.

*Raimundo Correia, nasceu em 1860, a bordo de um vapor, próximo ao Maranhão. 
É tido como o primeiro poeta parnasiano brasileiro. 
Faleceu em Paris no ano de 1811. 
Aparece aqui como sugestão nesta data do vai-e-vem democrático.





"JOSÉ


E agora, José?

A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?"



Carlos Drummond de Andrade




RECORDANDO-TE


Ao longe, meu amor, ficavas perto.
Eu via-te nas bermas do caminho.
Se não te amasse tanto, era um deserto.
Assim, pra te chegar, era um saltinho.

Já tinha tido o sonho pela noite,
Já tinha vindo o sol... e a alvorada 
Levava-me até ti em passo leve,
Quer fosse sob a chuva em forte açoite,
Quer fosse em manhã clara, em sol banhada...
Tudo levava a ti de modo breve.

Olhávamos ao fundo o nosso rio
Enquanto entrelaçava a mão na tua...
O tempo, o nosso tempo, um desafio
A construir futuros em projetos
No meio de carícias e de afetos
Que nunca a primavera os atenua.

E foi no fim da bela primavera
Que te foste de mim sem um adeus.
Parece que inda estou à tua espera...
Que a dor ainda hoje dilacera
Lembrando o teu sorriso... os olhos teus...

Oh não! Como é que ainda continuas
Nos becos, nas vielas, onde estou?
Por vezes vejo um vulto pelas ruas
Como se fosse, agora, o outro tempo...

E sigo, fustigando-me o tormento,
Absorto, sem saber para onde vou.



Joaquim Sustelo




Poema 11 Namorados 2

Com a vida eu
vou na tentação
do coração

que manda amar
sem tripudiar
e pede entrega,

a mente manda
entregar
dois terços de paixão
um terço sedução
três terços inteiros
em emoção.

Eduardo da Rocha Vieira


"Na Mão de Deus 
Na mão de Deus, na sua mão direita, 

Descansou afinal meu coração. 
Do palácio encantado da Ilusão 
Desci a passo e passo a escada estreita. 

Como as flores mortais, com que se enfeita 
A ignorância infantil, despojo vão, 
Depois do Ideal e da Paixão 
A forma transitória e imperfeita. 

Como criança, em lôbrega jornada, 
Que a mãe leva ao colo agasalhada 
E atravessa, sorrindo vagamente, 

Selvas, mares, areias do deserto... 
Dorme o teu sono, coração liberto, 
Dorme na mão de Deus eternamente!" 



Antero de Quental, in "Sonetos"

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