quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013



A AÇÃO INEXORÁVEL DO TEMPO
Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor.

Sem maiores pretensões buscava algum programa na televisão para aplacar a insônia e, na busca dos canais, de repente tomou a telinha a figura emblemática de Abelardo Barbosa, o “Chacrinha”, com suas roupas berrantes e a inseparável buzina.
Constatei que a “GNT” fazia uma homenagem aos programas do “Velho Guerreiro”, trazendo cenas daquele tempo, entrecortadas com entrevistas e depoimentos de personagens bizarras que com ele conviveram, de artistas decaídos e outros ainda em atividade, e das suas famosas “Chacretes”, funcionários e diretores d ´antanho.
No desenvolver do programa senti nostálgico o desfilar de vetustas figuras, algumas já com evidentes sinais de declínio físico e, ou mental, algumas até grotescas quando insistiram em vestir as fantasias de outrora, tentarem repetir os passos da coreografia sob o som da famosa música “Abelardo Barbosa, está com tudo e não está prosa ... oh Terezinha, Ó Terezinha.... é um barato o Cassino do Chacrinha”.
Artistas dão os seus testemunhos, contam os seus dramas – alguns causando espanto pelo estado físico, como Nelson Ned, Wanderley Cardoso, Rosemary, Agnaldo Timoteo, com dificuldade para emitir suas vozes. músicos e maestros deformados pela gordura, calouros idosos repetindo as suas execráveis performances, como também artistas que souberam envelhecer mantendo a postura adequada da sua idade, como Roberto Carlos, Wanderléia, Gilberto Gil, Fábio Júnior, Alcione, Ney Matogrosso, Beth Carvalho e outros.
Foi um programa de longa duração, que terminou com o testemunho do velho “Russo” e uma canção pungente de Alceu Valença nominando os personagens dos programas do Chacrinha, que acompanhei por muito tempo, dado o inusitado e o estranho que dominavam as tardes de sábado e domingo, com a Discoteca e o Cassino do Chacrinha.
Diz um ditado que “Recordar é Viver”. Mas nesse programa eu diria que “Recordar é sofrer”.
Foi doloroso para mim. Tive que ser medicado para me acalmar. Triste filme ou triste fim.
A velhice não merece esse vexame!

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