sábado, 25 de maio de 2013


A RÁDIO NORDESTE                                                        Gileno Guanabara
Nostalgias à parte, boas lembranças urdem teimosamente, vez por outra, e nos comovem. As tradições da Cidade do Natal servem de inspiração.
O Bairro da Cidade Alta, que se estendeu a partir da “Campina”, onde ficava a “Cidade Baixa” (atualmente a Praça Augusto Severo e adjacências), viu nascer a Rua João Pessoa atual, a partir dos fundos da Catedral centenária, onde está a “Praça Padre João Maria”, que se notabilizou, defronte a casa do Cel. Joaquim Guilherme, em os rapazes se reunirem para bisbilhotar a vida alheia. Passeio largo, os bancos da praça tornaram-se privilegiados pela crescente sombra dos fícus benjamim. O busto do padre João Maria ao centro, velas ardentes, fitas e  “ex votos” pelos milagres alcançados. Da Ribeira, vindo pela Catedral, passava o bonde pela lateral da praça, preguiçosamente sobre trilhos, indo ao Alecrim.
Pelo lado da frente da Praça ficava a edificação majestosa do Salão Imperador. Da Rua Vigário Bartolomeu (que fora “Rua da Palha”), indo pela Rua João Pessoa, a sequência de portas dava acesso ao salão das mesas de bilhar. O Salão Imperador deu lugar ao primeiro edifício da cidade, homenagem à Loja Maçônica “21 de Março”. Defronte, um casario cuja família acomodava moças que vinham estudar na capital. De cômodos dispostos para a lateral da praça, os janelões pouco eram abertos à luz do sol. Pelos anos de 1970, deu lugar a sede do Banco do Nordeste do Brasil. Do outro lado, o local que notabilizara o casario do Cel. Joaquim Guilherme deu lugar a imponente sede da Irmandade do Senhor dos Passos, entidade que congregava religiosos católicos, desde o ano de 1825.
Ano de 1955. Pela Rua João Pessoa, confluência das Ruas Gonçalves Ledo e Vaz Gondim  (tradicional “Beco da Lama”), o imóvel que abrigava o Serviço Social do Comércio deu lugar a Rádio Nordeste, propriedade do então senador Dinarte de Medeiros Mariz. O auditório com 600 poltronas, ar condicionado, jardins internos, serviços de lanchonete, a Sorveteria Oasis. O radialista Eider Furtado foi o seu primeiro diretor. Chamado “Palácio do Rádio Potiguar”, a Superintendência foi exercida inicialmente por Roberto dos Wanderley Mariz, e depois por Aldo Medeiros que foi sucedido por Garibaldi Alves, em face da aquisição da Rádio por Aristófanes Fernandes.
 A equipe de colaboradores incluía radialistas, como José Garcia Câmara, Nilson Patriota, que produzia a Revista “Motivos Brasileiros” e divulgava as coisas do rádio. Contava ainda com Jaime Wanderley, Robério Santos, Hélio Fernandes. Do Departamento Esportivo os radialistas Ivan Lima, Amauri Dantas, Jaime Queiroz e Fernando Garcia, com transmissões diretas do Estádio Juvenal Lamartine.
Entusiasta do rádio/teatro, lá colaborou Agnaldo Rayol, com as presenças das rádio-atrizes Suzan Lopes, Neide Maria, Lurdes Nascimento, e Luiz Messias.  O “cast” artístico, além de Agnaldo Rayol, contou com Marli Rayol, José Honório, Francisco de Assis, Francineide Lima, Valdira Medeiros, Tônia Santos, Lurdinha Silva, Trio Puraci e Isis Del Mar, esta que se intitulava rumbeira e rádio-atriz.
Sob a direção de Geraldo Melo, atuavam os jornalistas Eugênio Neto, Aluísio Meneses, José Guará, Marcino Dias, Otomar Lopes Cardoso e Hênio Melo. E o “cast” dos locutores, Vanildo Nunes, Fernando Garcia, Danilo Santos, Etevaldo Santiago, Edmilson Andrade, Gutemberg Marinho e Paulo Macedo (crônica social). Programas radiofônicos semanais: “Vozes do Brasil”; “Não Diga a Ninguém” (de Nilson Patriota); “Tardes Femininas” (de Etevaldo Santiago e Suzan Lopes); “Palácio da Alegria” (Paulo Teixeira); e “Vida apertada” (Luiz Carlos). Pelos seus microfones desfilaram Gregórios Barrios, Ivon  Curi, Trio Yrakitan, Trio Marabá, Trio de Ouro, Ataulfo Alves, Orlando Silva, Gilberto Alves, Carlos Gonzaga, Caubi Peixoto, Elza Laranjeira, Consuelo Leandro, Duo Guarujá, Heleninha Costa, Costinha e Cascatinha.
A disputa político-eleitoral do ano de 1960 e a eleição dissidente de Aluízio Alves, interferiu no êxito daquele empreendimento, partidarizando o espaço radiofônico. Com a decadência da “época de ouro do rádio” deu-se a transferência do projeto para o conglomerado “Cireda” (Cinemas Rex, São Luiz e Cine São Pedro). A partir da década de 1980, o Cine Nordeste se resumiu à rotina de filmes “pornôs”. As plateias limitaram-se ao gosto menos exigente. Adquirida pelo empresário Felinto Rodrigues, a Rádio Nordeste foi transferida para o local de seus transmissores. Inativo, o cinema fechou suas portas. Atualmente o espaço do que antes fora o “Palácio do Rádio Potiguar” serve ao comercio de variedades.


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