sábado, 25 de maio de 2013

Recordando os velhos cabarés da Ribeira

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br
   
No final da década de 1930, a Ribeira atravessava uma fase de esplendor que incluía, inclusive, as casas de tolerância.
Nos cabarés, nos becos e nas ruas estreitas, havia de tudo. De meretrizes velhas e hediondas a mocinhas de beleza radiante. Louras, morenas, mulatas e negras – gordas e magras – altas e baixas. Tinha mulheres para todos os gostos masculinos. A diversidade era grande, peitudas de vastas mamas, até outras de peitos murchos e caídos.
Às noites, elas geralmente ficavam nas calçadas das casas de prostituição, de onde exalava o cheiro característico de cigarro e loção barata. Com roupas sumárias e berrantes as prostitutas tentavam atrair a atenção dos passantes – Rua Almino Afonso, XV de Novembro (...) chamando-os com movimentos de cabeça, piscadelas, acenos sensuais, assovios, ou palavras cochichadas: “Vem cá, vem cá, meu bem!”. Os convites faziam parte do jogo da sedução.
Naquele tempo os prostíbulos eram bastante semelhantes entre si. No salão da frente, uma porção de mulheres (as inquilinas) em exposição passeavam entre as mesas do salão de luz vermelha, aguardando ansiosamente para serem chamadas por algum dos frequentadores. O movimento daqueles locais era intenso e estendia-se até as primeiras horas da madrugada seguinte.
O interesse dos donos das casas noturnas era fazer com que os frequentadores consumissem o máximo em bebidas alcoólicas. Normalmente, as inquilinas recebiam uma gorda comissão sobre essas vendas. Por essa razão, a bebida rolava solta durante as noitadas alegres.
No salão, sob o som de um fox ou Charleston, proveniente de uma radiola de fichas (jukebox), os casais dançavam agarrados, sob falsas promessas de amor.
As mulheres mais atraentes, “reboculosas”, eram disputadas assiduamente entre a clientela, sedenta do “amor de poucos instantes”. Outras inquilinas dançavam sós, com seus requebros indecentes, saias curtas e gestos soberbos. Era o jogo da sedução!
Algumas, mais desinibidas, iam de mesa em mesa, apregoando suas especialidades amorosas. Fumando, rindo, bebendo... circulavam pelo salão entre os frequentadores. Muitas delas usavam nomes estrangeiros – Julette, Loulou, Mimi, Jeannette, Titine...fazia parte do charme.
Normalmente, nos fundos do salão esfumaçado, estavam os quartos – verdadeiras alcovas do amor. Dentro de cada um dos quartos, uma cama de casal “rangedeira”, uma bacia de ágata, uma jarra de água, toalha, e um cabide para as roupas e chapéu dos clientes.
Geralmente, o espaço era mínimo, e muitas não dispunham da famosa “penteadeira de rapariga”, cheia de vidros e enfeitada. O cheiro dos quartos não agradava, pois a higiene era bastante precária. Pela proximidade dos quartos, a privacidade dos casais também deixava muito a desejar.
Naquele tempo, a gonorreia, o cancro e outras doenças infectavam muitos – a mais temida das doenças, a sífilis, cegou e deformou muita gente. Diziam que algumas meretrizes usavam galhos de arruda nas coxas, para evitar mau-olhado e doenças venéreas (?!).
Porém, somente a partir de 1939, com a descoberta da penicilina, começou a diminuir o surgimento das doenças venéreas, em particular a sífilis. Durante o período da II Guerra Mundial, o Exército Americano instituiu um serviço de controle entre as prostitutas, destinado a evitar a disseminação das doenças venéreas entre os soldados.
Cada uma das mulheres da noite tinha uma carteirinha de saúde que atestava suas condições. As doentes eram tiradas de circulação e normalmente se recolhiam ao Beco da Quarentena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário