sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


A PRAÇA (AINDA) É DO POVO?
Geniberto Paiva Campos
Brasília, fevereiro / 2014
“Antes de compreendermos que as coisas  se encontram em uma determinada situação, elas já mudaram várias vezes.  Assim sempre percebemos os acontecimentos tarde demais, e a política tem sempre a necessidade de prever, por assim dizer, o presente”. *
1)      Vivemos tempos estranhos. A rapidez com que as coisas acontecem não dá chance aos cientistas sociais, aos teóricos, aos livre pensadores e aos palpiteiros em geral  - também chamados consultores, quando aparecem na TV - formularem as   interpretações  coerentes dos fatos.
A inteligência brasileira está diante de novos e instigantes desafios. Mal refeita do susto das manifestações de junho de 2013, ainda carente de análises e em processo de avaliação, surgem  misturados aos manifestantes, aparentemente mal percebidos por estes, grupos mascarados dispostos a destruírem, de forma violenta e irracional, o que consideram símbolos do poder capitalista. São os “black blocks”, em incontida fúria destruidora. O que tornou a interpretação teórico-conceitual dos filósofos de plantão tremendamente difícil, senão impossível.
Como se isso tudo não bastasse, mais recentemente, a TV invadiu os lares brasileiros com outro estranho, inusitado movimento. Chamado “rolêzinho”, constituído por adolescentes da periferia urbana que assumiram o direito de compartilhar o espaço físico, quase sagrado, dos shoppings,  consensualmente aceito como local  restrito, embora público. Espaço legítimo, reservado aos jovens de alto poder aquisitivo. Como ousam? A Justiça, nesse caso, foi acionada e deu pronta resposta: os rolêzinhos devem procurar outras paragens para o seu divertimento e lazer. As justificativas legais soaram um pouco estranhas, talvez cínicas. Mas as ameaças de multas e outras punições, parece, arrefeceram  momentaneamente ânimos dos novos frequentadores desses templos do consumo.
Tais manifestações democráticas, organizadas por meios eletrônicos, não deveriam ser recebidas com júbilo pela sociedade brasileira? Não seriam elas o equivalente tupiniquim dos movimentos de junho de 1968 – embora com algumas décadas de atraso, admita-se -  ocorridos na França e que balançaram as estruturas do poder?
2)      Parece que o pensamento médio   da sociedade brasileira tem dificuldades em assimilar o novo. Sobretudo quando o novo surge em roupagens desconhecidas, usando máscaras, sem uma pauta reivindicatória definida. Parafraseando McLuhan:  o movimento é a mensagem; a mensagem é o movimento...
*Turgot – citado por  Walter Benjamin . Passagens. Ed. UFMG/ 2006 . pag.520
Talvez seja precipitado falar em tolerância excessiva com o fenômeno. Mas há, sem dúvida, uma certa leniência, em mistura com perplexidade, com as manifestações, por parte do estamento do Estado e dos órgãos de comunicação. Ninguém quer atirar a primeira pedra e assumir o papel  de repressor de manifestações livres, naturais em um regime democrático. Lamentavelmente, tombou uma vítima fatal da violência, aparentemente sem nexo e sem objetivos claros e definidos. Como justificar a morte injustificada do repórter fotográfico Santiago, que apenas cumpria a sua tarefa , no conflagrado espaço urbano, de forma estritamente profissional?  Uma das respostas, das que sempre surgem, quase automática, no cenário político administrativo, desde os primórdios do Brasil como Nação, é a retórica ardilosa que coloca a necessidade de leis restritivas, como solução. Que possam enquadrar o crime e seus agentes, cominando penas absurdas, satisfazendo, assim, os “clamores da opinião pública”.
Parece que desta vez o caso requer respostas mais inteligentes e criativas. Como lidar, vá lá o termo – democraticamente – com a presente situação? Como garantir a livre manifestação da cidadania e, ao mesmo tempo, conter  a boçalidade da violência exercida, de forma estúpida, agora contra pessoas?
3)      Este o desafio que está sendo colocado para o país. E, desta vez, não basta, apenas, infantilizar o debate político, colocando as torcidas em pé de guerra, na arquibancada. Pró governo e Anti governo. O problema afeta a todos. É possível, bem provável até, que a Democracia, o Processo Civilizatório  estejam correndo sérios riscos. “Quid Prodest”? A quem interessa a quebra da legalidade e das liberdades democráticas? Com palavra a Nação Brasileira.  

 

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