domingo, 2 de fevereiro de 2014

 RETORNANDO AO CAMINHO DA POESIA
Neste domingo estou retornando com a página dedicada à cultura poética.


Mote de Sebastião Siqueira (Beijo)
Dedé Monteiro  
(NA ÍNTEGRA)
Nunca pensei na velhice,
Mas a danada chegou…
E o seu fantasma me disse
Que o tempo bom acabou.
E o mesmo tempo, sisudo,
Me quis despojar de tudo,
Desmoronando os meus planos.
E, pra maior pesadelo,
Jesus pintou meu cabelo
Co’a tinta branca dos anos.
O tempo passa veloz,
Deixando tudo em desgraça.
Nós nem pensamos em nós
Tão veloz o tempo passa.
Eu mesmo, em mim, só pensei
Depois que velho fiquei,
Depois de mil desenganos…
Já não represento nada,
Tendo a cabeça pintada
Co’a tinta branca dos anos.
Tudo na vida se acaba…
A mocidade, também.
A juventude se acaba
Quando a caduquice vem.
Sinto que a morte me afronta
E que a consciência conta
O meu tempo entre os humanos.
Vejo os meus dias contados
Nos meus cabelos pintados
Co’a tinta branca dos anos.
A tinta que o tempo bota
Sobre a cabeça da gente
É d’uma que não desbota,
Permanece eternamente.
Tem gente que compra tinta,
Mete na cabeça e pinta,
Só pra nos causar enganos…
Mas é besteira do povo.
Depois sai cabelo novo
Co’a tinta branca dos anos.
 

Tabira/1970
 * * *
SETE ELEGIAS DE UM ANO FINDO
 
                        1
vestida de azul levaram a infanta
e a sua casa ficou vazia
                        2
            A luiz maranhão filho, mártir do povo:
sob o peso da noite
            e do vinho amargo
bati à porta da treva
            e gritei o teu nome
mas nada ouvi senão ecos
            a fulminar
                        a memória
                        3
dois olhos vazios
            bebem sonolentos
as águas do rio
            entre eles a ponte
recolhe o choro inútil
            da argila molhada
                        4
noite
            noite fria
o vento traz a lembrança
            da poeira pisada
e do estrume dos currais
            a lua e o vento
brincam na rua deserta
            e o som do chocalho
desmaia
            nas cinzas do passado
                        5
alguém chora
            mas não há lágrimas
exceto vagalumes
            náufragos aéreos
que espalham à deriva
            luzes
                        do éden perdido
                        6
há um abismo doce
            nesses beirais que falam
da chuva que veio do mar
            e que esqueceu
a velha paixão]
            do sal abandonado
no leito secreto
            dos amores soterrados
                        7
não voltarão mais
            essas águas que passaram
levando no asfalto
            folhas caídas
das sete colinas de lisboa
            no último dia do ano findo
 
mas a passar vejo-as ainda
pois na eternidade nada finda
 
                                   (Horácio Paiva –
                                    Lisboa, 31/12/2013)
 
*  *  *
 
 

 
                                   ARCHOTES
                        Ciro José Tavares
Antes da hora acenderei candelabros das salas sem ninguém,
 no frágil lume das velas do oratório honrarei meus santos.
Nos quintais da casa arruinada farei queimar candeias,
abrir a cortina do tempo, redescobrir caminhos
e neles como filho pródigo me encontrarei.
Durante a derradeira hora entre músicas, gritos,
 repicar de sinos, céu coberto de fogos de artifício,
terei meus olhos outonais iluminados pela nova aurora
e no coração acenderei minhas palavras para falar de amor.
 

 

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