domingo, 16 de fevereiro de 2014



                   OS DOMINGOS DE HORÁCIO PAIVA



PÃO E LUZ

                        com lápis invisível
                        descrevo na escuridão
                        o que não vejo

                        e nada sei do pão
                        que está à mesa
                        à espera da luz



SEMPRE DOMINGO

                                   “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã”
                                               -  Mateus, 6:34  -

o domingo estende uma toalha branca
e põe a sua mesa
com flores vinho e frutos do mar

sem imaginar naufrágios
e já quase esquecido do tempo voraz

mas ao meio-dia
com olhos cegos e arma em punho                          
a segunda acorda e precipita seus receios vãos
em nebulosas inquietudes

ao meio-dia do domingo precipita-se a segunda-feira

entorna o vinho então sossegado
e o despede
mas apenas por instantes
pois logo o domingo se refaz
e afeito a vencer desafios milenares
aos poucos afasta as ilusões daninhas
e restaura a paz
                  



PÃO E MEL

a poesia está no simples
e no mistério transfigurado

lembro da emoção que me envolveu
ao ler o relato antigo do encontro
de dois povos:


o viajante extenuado que chegava à terra
após a longa viagem oceânica
e o nativo que lhe oferecia
pão e mel



            ELEGIA

                                               A Carlos Freire, in memoriam
           
Serão estas árvores frondosas
aquelas pequenas mudas que plantamos
enquanto a céu aberto conversávamos
e a luz invadia os nossos olhos?

Você já não se encontra aqui para afirmá-lo

e a velocidade do tempo é tanta
que não surpreendem a saudade e o cansaço

e esta paragem no passado.

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