quinta-feira, 24 de abril de 2014

Gabriel Garcia Marquez




Adiós, Gabito.

Paulo Benz. Poeta.




Partiu, aos 87 anos, Gabriel Garcia Márquez, o Gabo. Gabito na infância e na referência carinhosa do diminutivo.

Garcia Márquez está para a minha estante de livros como Eric Clapton esta para a coleção de CDs.  Em destaque. O que mais prezo, o que mais valor para mim representa.

Não que eu tenha lido toda a sua obra, ou que possa me postar como especialista dos seus dizeres. Apenas consigno o meu gostar. Para mim, seus livros são tocantes, vivos. Humanos, acima de tudo.

Sobre Cem anos de Solidão, há uma curiosidade pessoal. Comecei a ler o livro na década de 80 e não consegui prosseguir. Algo bateu tão forte na minha própria solidão que não conseguia avançar. Era como se fosse ser tragado pelo livro e pela solidão de seus personagens, que fosse ficar preso ali, naqueles vilarejos poeirentos, sem saber mais o nome das coisas e precisando escrever bilhetes para lembrar.  Levei perto de vinte anos para tentar de novo.

Reiniciada, novamente interrompi a leitura. Isso após descobrir uma preciosidade, que é o livro Viagem à Semente, de Dasso Saldívar. Trata-se de uma biografia de Gabo, voltada à compreensão de como nasceu Cem Anos de Solidão. Lida a biografia, retomei “Cem anos” desde o início, para finalmente, décadas depois, terminar. Maravilhado, encerrei a primeira das leituras (voltei a ele outras vezes, como agora, ao escrever estas linhas, já reacende a vontade de outra releitura).

Por hora, ando mordiscando as crônicas de um volume compilado, parte da coleção da obra jornalística de Márquez.

Mas, o sentimento especial que tenho por “Amor nos tempos do Cólera”, é fato.

Embora goste imensamente de ler, não sou sistemático. Minhas leituras são variadas e sem objetivo próprio que não o de ler o que estou com vontade.

Contudo, já me foi perguntado mais de uma vez qual o melhor livro que já li. Nisso, não tenho dúvidas: Amor nos Tempos do Cólera. O livro é de uma humanidade imensa, sem pieguices e com um vento de esperança comovente que avança por suas páginas. As suas linhas finais, que obviamente não vou transcrever aqui, vez por outra me assaltam e retornam ao pensamento.  Coerente com o livro, não conheço outro final igual.

O próprio autor o tratava com sua melhor obra. Uma vez vi uma entrevista na qual ele contava que Cem Anos de Solidão foi seu livro mais vendido e mais premiado; o Outono do Patriarca, o mais estudado; mas que, para ele, o que iria ficar, da sua obra, era Amor nos Tempos do Cólera, através do qual revisitou a história dos seus pais.

Sua autobiografia, Viver para Contar, deixou a todos seus leitores na vontade de mais, pois o segundo volume não foi escrito, em razão da perda de memória que o alcançou.

Inúmeras frases de efeito foram pinçadas das suas obras e entrevistas, desnudando a alma humana e a acuidade do seu pensamento, sua veia de jornalista e, mais que tudo, o ser humano atento ao mundo ao seu redor.

Para falar deste momento, mais do que lamentar a sua ida, é lembrar com prazer o legado que deixou com seus textos.  E, com uma frase sua, encerro este relato das minhas saudades...

"Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu".

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