segunda-feira, 21 de abril de 2014

Sal



NOSSO SAL DE CADA DIA
                               Ailton Salviano – Geólogo/Jornalista

            Há muito tempo, na escola secundária, aprendi e nunca mais esqueci, por quais motivos o Rio Grande do Norte é o maior produtor de sal marinho do Brasil. Os sábios mestres de antanho citavam três principais fatores e todos, por coincidência, associados à mãe Natureza: 1) a excepcional salinidade do Atlântico na costa potiguar; 2) o nosso regime de ventos e 3) a constante insolação do nosso litoral.

Com essas dádivas naturais, o potiguar não encontrou grandes dificuldades para conceber a ideia de concentrar, a partir da água do mar, o cloreto de sódio, o nosso tradicional sal de cozinha. Quantas histórias envolveram e ainda envolvem o produto e a palavra sal! Desde a importância e sua valorização como o melhor conservador natural de alimentos até a curiosidade etimológica de derivar a palavra “salário”.

Pela condição que ostenta, o Rio Grande do Norte seria também, a antítese de um pequeno trecho na mensagem do Senhor no Sermão da Montanha. Naquele longo discurso com ensinamentos morais e de conduta, parte do Evangelho de Mateus, dirigindo-se aos seus seguidores, Cristo diz: “Vós sois o sal da Terra”. Por mera coincidência, nosso Estado, com suas cidades da denominada “costa branca”, é conhecido como “a terra do sal”. Somos, portanto, a terra do sal e do sol!

Por sua capacidade de contrair veias e artérias e por conseguinte, aumentar a pressão do fluxo sanguíneo, o sal tornou-se o principal inimigo dos hipertensos (meu caso) e sua ingestão em excesso passou a ser condenada pelos cardiologistas. Associadas ao sal, há ainda, diversas crendices populares, todas apelam para seus poderes de purificação. Quem nunca ouviu falar em banho de sal grosso ou espalhar a substância por determinados locais dos ambientes para afastar as mandingas?

Para concluir, um fato histórico pouco conhecido e explorado, porém de enorme significado para os povos indianos. Trata-se da “Grande Marcha do Sal” realizada em 1930 e protagonizada por Mahatma Gandhi, numa importante ação na busca da independência da Índia colonial. Está nos registros históricos, a mais fantástica e pacífica caminhada feita pelo líder indiano Gandhi para chamar a atenção da humanidade para a sua campanha de tornar o seu país, a Índia, independente do Império Britânico.

Para o professor de Havard, Geoffrey Blainey, “a Marcha do Sal configurou-se como uma reveladora aventura espiritual e política. A escolha foi inteligente e criou um grande impacto na Inglaterra. Alguns jornais britânicos consideraram tremendamente injusto taxar um produto de primeira necessidade”. A caminhada de protesto, também conhecida como Satyagraha do Sal, começou no dia 12 de março de 1930, durou 25 dias, terminando em 6 de abril (há exatos 84 anos) e percorreu aproximadamente 400 quilômetros ou a distância aproximada entre as cidades de Rio de Janeiro e São Paulo.

No final da jornada, Gandhi e milhares de seguidores foram presos por soldados britânicos que guardavam as salinas ao norte do país. Posteriormente, o grande líder hindu foi libertado. A marcha, que teve caráter pacífico, foi considerada um dos mais importantes desafios à autoridade britânica. Numa época em que eram bastante escassos os recursos dos meios de comunicação, Gandhi conseguiu atrair a atenção do mundo para o seu gesto, inclusive dos algozes britânicos.

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