sexta-feira, 12 de setembro de 2014


Marcelo Alves 

Crônica/artigo publicada domingo passado na Tribuna do Norte (de Natal/RN):

Minhas livrarias em Paris (III)

Na semana passada, enquanto passeávamos pelo Quartier Latin, prometi escrever sobre as livrarias jurídicas de Paris. Promessa é dívida, e cumpro agora.

Em busca dessas livrarias jurídicas, não precisamos ir muito longe. Em Paris, a maioria das que conheço fica ali mesmo, no Quartier Latin, nas imediações do Panthéon e da Sorbonne (falo da renomada “Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne”), mais precisamente na Rue Soufflot, por alguns chamada de “Rue du Droit”. De fácil acesso e muitíssimo frequentada, essa rua liga o Boulevard Saint-Michel, na altura dos Jardins de Luxemburgo, com o Panthéon (se for tomar o metrô, sugiro descer na estação Cluny - La Sorbonne; se for de RER, outra modalidade interligada de trem urbano de Paris, sugiro descer na estação Luxemburg).

Na Rue Soufflot estão, todas juntinhas, três excelentes livrarias jurídicas (e por ali ainda existem outras, é bom frisar).

No número 20, em uma esquina, está a “Librairie LGDJ”. Livraria de referência em língua francesa, trabalhando com inúmeras editoras, ela vende de tudo: direito constitucional, administrativo, penal e processual penal, civil e por aí vai. Tem até um tal de “droit du tourisme”, ramo no qual estou pensando, muito animadamente, em me especializar.

Na esquina seguinte, em direção aos Jardins de Luxemburgo, no número 22, está “Librairie Juridique Dalloz”. Fundada em 1961, portanto há mais de meio século, é também uma livraria de referência. Assim como a LGDJ, também tem de tudo e de várias editoras, não só da famosa Editora Dalloz, ao que, pela confusão dos nomes (que não é mera coincidência), poderíamos ser levados a achar.

A terceira livraria que recomendo por ali é a filial da antiquíssima “Ma Librairie de Droit”. Ela fica bem pertinho, no número 26 da Rue Soufflot (a primeira loja, mais antiga, que visitaremos mais tarde, fica na Place Dauphine, na Ilé de la Cité). Pelo que sei, está ali há mais de 60 anos. Também vende de tudo em livros jurídicos. Seus títulos e estoque contam-se aos milhares.

Após adquiridos (ou não) os livros jurídicos, sugiro, para um “turisminho” básico, caminhar pela Rua Soufflot. Afinal, é subindo por ela que se avista, ao fundo, as colunatas e o imenso domo do Panthéon de Paris, mausoléu dedicado, pela pátria agradecida, “aux grands hommes” da França. Começando por Mirabeau, o primeiro ali sepultado, no Panteão estão os restos mortais de homens (e mulheres) que contribuíram não só com a França mas com toda a humanidade: Voltaire, Jean-Jacques Rousseau, Victor Hugo, Émile Zola, Jean Jaurès, Pierre Curie, Marie Curie, André Malraux, Alexandre Dumas (père) e muitos outros. Projetado por Jacques-Germain Soufflot (1713-1780), arquiteto que empresta seu nome à “rua das livrarias jurídicas”, para ser a “Église Sainte-Geneviève à Paris”, o Panthéon de Paris é belíssimo. Por fora e por dentro. Mesmo carregando os chatíssimos livros jurídicos, recomendo visitar.

Saindo do Panteão, sugiro dar uma passada na “Ecole de Droit de la Sorbonne”. Fica em frente, no número 12 Place du Panthéon. Vale a pena pedir para alguém bater uma foto sua, pegando a fachada, embaixo do belo pórtico, que contém a inscrição “Université de Paris - Faculté de Droit”. Eu pedi. E ela, tenho certeza, lembra-se muito bem.

A Sorbonne, aliás, não é a única instituição de ensino de grande prestígio por aquelas bandas. A dois passos dali, no número 11 da Place Marcelin Berthelot, está o Collège de France. Fundado em 1530 pelo Rei Francisco I (1494-1547), o Collège de France tornou-se uma instituição de ensino única no mundo. Sem a rigidez da organização universitária, está sempre na vanguarda pesquisa e do ensino nos mais variados ramos do conhecimento. Seus professores sempre foram a fina flor da “inteligentia” francesa. As palestras ali, pelo que sei, são gratuitas e de acesso livre. Basta haver disponibilidade de lugar. Que tal, caro leitor, assistir a uma delas?

No mais, antes de terminarmos, tenho um tour a sugerir um busca de mais uma livraria jurídica: vá da Rue Soufflot à Place Dauphine, na Ilé de la Cité. É muito fácil. Caminhando, sem paradas, leva uns 15 a 20 minutos, com direito a atravessar o Sena e dar uma boa olhada na Catedral de Notre-Dame, que dispensa apresentações. Com paradas, pode levar até dois dias (se tomar o metrô, sugiro descer na estação Pont Neuf ou, alternativamente, na estação Cité).

É no número 27 da Place Dauphine (na Ilé de la Cité) que se encontra primeira loja da já referida “Ma Librairie de Droit”, loja que, segundo me foi dito, tem mais de 100 anos. Também chamada de “Libraire de la Cour de Cassation”, ela é, como as outras três livrarias já citadas, excelente. Já a Place Dauphine, triangular, pequenina, muito tranquila, toda cercada de prédios seculares (imóveis residenciais, galerias de arte, pequenos hotéis, restaurantes e prédios públicos), é um dos mais belos e aconchegantes sítios de Paris.

Por fim, para os amantes do Direito, registro que a Place Dauphine fica precisamente nos fundos do belíssimo Palais de Justice, que pode ser considerado o “centro nervoso” do sistema judicial francês, já que ali estão sediados a Cour de Cassation da França, a Cour d'Appel de Paris e o Tribunal de Grande Instance de Paris (TGI de Paris). Mas essa famosa “casa” da Justiça é assunto para outro artigo.

Marcelo Alves Dias de Souza
Procurador Regional da República
Doutor em Direito pelo King’s College London – KCL
Mestre em Direito pela PUC/SP

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