domingo, 12 de outubro de 2014



A CRIANÇA QUE AINDA VIVE EM MIM

Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, escritor

            A frase de efeito literário – “vai longe o tempo da minha infância”, não cabe em mim, pois preservo as emoções daquele período lúdico, do qual recordo todos os seus instantes até os dias presentes.

            Lembro-me na condição de criança desde o tempo da 2ª guerra, quando morávamos na Rua Felipe Camarão, assistindo o passar dos caminhões pesados dos Exércitos Americano e Brasileiro, vindos da Ribeira. Depois, na Otávio Lamartine, defronte a uma unidade militar, onde guardava armamentos (em frente à Igreja de São Judas Tadeu). De lá, fui para o interior, acompanhando papai, então Juiz de Direito, daqueles que moravam na Comarca.

            Na paisagem bucólica do interior alarguei a minha infância – Angicos, Penha e Macaíba, onde conheci os folguedos (festa de padroeiro do lugar); os costumes populares (audições dos Circos, onde levávamos as cadeiras de casa); as cantigas de roda, as sessões do Boi de Reis, das Lapinhas, Pastoril, as peladas de futebol, os quais marcaram, em definitivo, a minha lembrança mais rica.

            As festas de igreja, as novenas e procissões, os bailes, o povo ordeiro, onde aprendi que a solidariedade - é maior e mais verdadeira - entre os que não amealham maior condição financeira.

            Ao retornar à cidade grande, em 1948, o mundo reservou surpresas para mim, em especial a vida escolar regular e o pendor para a vida artística – fui artista na Rádio Poti e estudei na Escola de Música, sem deixar de frequentar o velho (86 anos agora) Estádio Juvenal Lamartine.

            Poucos, mas bons amigos dividiram comigo as aventuras da infância até que me tornei adolescente, convivendo com os sobrinhos que iam nascendo e então me tornei adulto e logo casei, vindo os filhos em espaço médio de dois anos e meio, num total de quatro e com eles revivi a infância.

            O correr da vida me deu, até agora, sete netos e neles eu continuo criança. É o mistério do tempo e logo mais estarei convivendo com os bisnetos, se Deus permitir.

            As crianças mantêm em mim a gostosura da infância, vibro com seus desempenhos nas apresentações culturais e com elas me emociono até às lágrimas. Nada me toca mais do que a situação dos infantes, sua vida, seu futuro.

            Hoje acordei com um único pensamento – a abertura da Cidade da Criança e logo me vêm à memória as tradicionais tertúlias, pic-nic’s e quermesses que frequentei ao logo da vida.

            Não tenho saudades da aurora da minha vida, da minha infância querida, porque tenho a criança que ainda vive em mim.

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