quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Relembrando



Uma manhã na Ribeira

Elísio Augusto de Medeiros e Silva

Empresário, escritor e membro da AEILIJ
elisio@mercomix.com.br

Na caminhada matinal que, diariamente, faço pela Cidade Baixa, procuro sempre visitar os mesmos locais, onde sou acolhido com simpatia.
Por mais que já tenha repetido esse trajeto, sempre volto fascinado, como quem vai pela primeira vez. A Ribeira não é minúscula, mas, ainda assim, perfeita para explorá-la a pé.
Hoje, todavia, percebo com tristeza como as ruas estão desertas. Na incerteza de cada passo, sinto falta de não avistar os velhos conhecidos com quem cruzo há décadas. Onde andarão?! Sinto saudade das inesperadas conversas matinais.
Quando encontro algum esboçamos tímidas saudações – às vezes, um simples sorriso, um balançar de cabeça, um erguer de sobrancelhas... Alguns deles não sabemos se já falamos alguma vez na vida, se ao menos fomos apresentados. Mas, isso não importa, o que vale são os cumprimentos sinceros que trocamos.
Continuo andando. Um pouco mais a frente, avisto um pequeno grupo de senhores reunido à porta do local onde funcionou o café A Cova da Onça – não me cumprimentam – mas, sinto que conheço alguns deles de algum lugar.
Reinicio o percurso solitário, da esquina da Rua Dr. Barata em direção à Rua Chile. O dia já clareava um pouco. Um silêncio reverente domina a cena – só escuto o ruído dos meus passos na calçada de ladrilhos gastos.
De repente, como num passe de mágica, o sol chegou forte e tudo brilha ao meu redor. Os pássaros cantam alegres nas árvores da avenida – o nascer do sol à beira-rio é fantástico! Detenho-me um pouco, não quero perder nenhum detalhe dessa apoteose.
Mais à frente, o Rio Potengi beira os degraus do antigo cais da Tavares de Lira (ex-cais Pedro de Barros), e o céu se curva para acariciar suas marolas. Ao longe, dois barcos pesqueiros cruzam o rio em direção à Ponte Newton Navarro, na Redinha, a essa hora de trânsito calmo.
O velho bairro, sedutor, apresenta-se em gestos medidos, e insinua-se diante dos meus olhos, que não cansam de admirá-lo. Uma experiência para não esquecer jamais.
Imagens antigas chegam-me rápidas e confusas. A memória agita-se, atropelando lembranças que teimam em vir à tona.
Assim como a moça que abre a janela para ser acariciada pelo sol da manhã, a Cidade Baixa se deixa ver em toda sua plenitude. A brisa suave que vem do rio acaricia meu pescoço, rosto e braços. Deixo-me envolver sem resistência. A sensação é incrível!
Continuo o passeio pela Rua Chile, tendo o cuidado de não tropeçar nos velhos trilhos de trem, que, embora sem uso, ainda permanecem no mesmo lugar. O caminho de ferro lembra-me fatos passados no bairro. Noto a harmonia presente entre os velhos armazéns que acompanham o rio, em direção ao cais do porto. Infelizmente, muitos estão abandonados pelo descaso dos proprietários.
Continuo meu percurso devagar, não tenho pressa. Uma umidade salgada chega-me até as narinas. Chego ao Largo da Rua Chile que se encontra em final de obras. Dentro em breve será inaugurado o novo Terminal de Passageiros. Será que terá movimento?!
A Ribeira faz tudo para encantar os homens, no entanto, alguns fingem ignorá-la. Bem-vindos sejam todos vocês!

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