segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Colaboração de David Leite






domingo, 16 de agosto de 2015


José Tolentino Mendonça

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos
Durmo no mar, durmo ao lado de meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração.

sábado, 15 de agosto de 2015


Walt Whitman

8
Ó estrela ocidental navegando pelo céu,
Agora sei o que deves ter procurado me dizer há cerca de um mês,
[quando passei,
Quando andei em silêncio na noite sombria e transparente,
Quando te vi tinhas algo para contar-me, quando te curvaste em
[minha direção, noite após noite,
Quando caíste do céu bem abaixo, como se viesses para o meu lado
[(enquanto todas as demais estrelas observavam),
Quando perambulamos juntos pela noite solene (pois algo que não
[conheço impediu-me de dormir),
Quando a noite avançava e vi na borda do ocidente quão repleta de
[pesar tu estavas,
Quando fiquei de pé no chão saliente, na brisa, na noite fria e transparente,
Quando vi que tinhas algo a me dizer, quando te inclinaste em
[minha direção, noite após noite,
Quando minha alma atormentada afundou na insatisfação, e tal
[como tu, triste orbe,
Findou, caiu na noite, e se foi.

9
Permanece a cantar aí no brejo,
Ó cantor acanhado e gentil, ouço tuas notas, ouço teu chamado,
Ouço, venho agora, compreendo-te,
Mas por um momento deixo-me ficar, pois que a estrela lustrosa
[me deteve,
A estrela, meu companheiro que parte, me abraça e me detém.

[In Folhas da Relva, trad. Luciano Alves Meira, São Paulo, Martin Claret, 2006, pp. 328-329].
CCols

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