sexta-feira, 1 de abril de 2016


BANHO DE CHUVA

O tempo se prepara, começa a chover. Depois que a chuva lava as telhas, não contamos tempo: vamos tomar banho, nas biqueiras. É um cortejo de alegria. É homem, é mulher, menino, adulto, idoso, no meio da rua, brincando, disputando a bica que despeje mais volume de água. É uma celebração de júbilo porque a vida está renascendo. É uma ciranda de amor porque cada pingo de chuva é um beijo que a terra ganha.
Ao se colocar debaixo de uma biqueira, o ser humano se embebe de gratidão porque, no sertão, a chuva é o alicerce da existência. É quando o céu está nublado que, para o sertanejo, o dia está mais bonito. O céu, assim, é mais sagrado e, em contato com a água, o ser humano se reconhece mais divino. 
O banho de chuva tem um toque que atinge a alma. Ele é a realização da esperança que foi acalentada durante anos de estiagem prolongada. Ele tem a capacidade de enxugar as lágrimas que ficaram presas dentro da alma. É triste ter que vender o rebanho para não vê-lo morrer de fome e sede. Beira o desespero ver um animal morrer em tempo de seca. O banho de chuva é um calmante que a natureza oferece ao sertanejo da zona urbana e da zona rural, bem como é um convite a recomeçar: plantar e colher, pensar e decidir como administrar a água, sem desperdício.
A chuva, no sertão, depois de um tempo de seca, é uma aspersão de água sagrada e é preciso guardar a preciosidade de cada pingo. Para o sertanejo, inverno chegando é páscoa, é vida nova, é caminho de ressurreição. É um verdadeiro sacrilégio pedir aos céus que derramem água e, depois que as chuvas caem, não querer aprender a reduzir, a reciclar e a reutilizar um bem de valor indiscutível, como é a água. A nossa gratidão a Deus pelo inverno que devolve a beleza ao sertão seja demonstrada pelo zelo na utilização da água. Uso, sim. Desperdício, nunca!

@gleiberdantas – Florânia, 30 de março de 2016.

(colaboração de Elza Medeios)

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