sábado, 5 de março de 2016


SÍNDROME DA INSÔNIA

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, escritor


           Mais uma vez fui sufocado pela maldita síndrome da insônia, que chegou tão logo os ponteiros do relógio se cruzaram.
            Em minha rede, retorci os pés inúmeras vezes e indaguei a mim mesmo: devo me levantar ou ficar zanzando na penumbra do meu quarto?
            A esposa dormia a sono solto, tendo aos seus pés a velha companheira Xana (gata que já é fenômeno de longevidade). No quarto ao lado dava para escutar o ronco da minha cunhada.
            Continuei na dúvida. O apito repetido do guarda-noturno de uma rua próxima me motivou a levantar-me. Logo estava eu procurando papel e lápis para escrever alguma coisa para o tempo passar.
            Não ousei subir ao primeiro andar, onde tenho um computador, com receio de fazer barulho, pois a noite estava calma e a temperatura agradável, própria para um bom sono (dos outros).
            Escrever o que? Fui até a mesa da sala, esbarrei no patinete de um dos netos, mas em tempo não o deixei cair e, cuidadosamente sentei. Olhei ao longe procurando um tema e me chegaram vivos os episódios e as mazelas do dia que terminou, com os reiterados exageros da mídia relativos à operação da Polícia Federal a cumprir mandado de condução coercitiva de depoentes envolvidos, ou supostamente envolvidos em escândalos administrativos, econômicos e políticos (debaixo de vara) para usar a velha expressão do Direito, entre os quais o nosso ex Presidente Lula.
            O que está havendo, para onde vamos? A insônia se transforma em pânico – estou velho e tenho muitos descendentes de pouca idade – como ficarão quando eu partir?
            Nesse instante, após um sopro de brisa litorânea fiquei mais acomodado, ao ponto de puxar pensamentos menos esdrúxulos – devo apressar a redação do meu livro de memórias. Mas fiquei confuso!
            Achei melhor ligar a televisão e, apesar dos ponteiros já caminharem para as duas horas, ainda estavam no ar os assuntos requentados do dia de ontem, com a reprodução do discurso populista do principal protagonista do episódio e acréscimos de estatísticas da cotação do dólar, que caiu e da bolsa de valores, que subiu, numa flagrante insinuação de que o perigo político da queda do governo permitiria uma mudança de azimute na governabilidade. Só sei que está instalado o confronto à moda antiga! Não sei não. Será que se aplica o fenômeno da semente que morre para construir nova vida? Continuo em dúvida. Quero um Brasil mais brasileiro, sem mistura de estrangeiro, um Brasil nacional (tirei a frase de um poema popular, mas não sei qual)!
            O tempo passou revoltantemente lento. Cadê o sol? Ainda estava muito cedo para ele aparecer. Só os ruídos dos aparelhos de refrigeração se tornavam evidentes.
            Parei para concluir esta crônica ao raiar do dia e voltei ao quarto. Já passava da terceira hora...
            Afinal, o cântico dos passarinhos anuncia que o sol chegou. Dormi quase três horas. Estou cansado, mas mesmo assim tenho forças para fazer o café matinal. Mas hoje é sábado. E daí? Vou voltar para o aconchego da rede e ver o que acontece de bom mais tarde!

Não, vou subir ao primeiro andar, e terminar logo esta crônica da péssima noite de insônia.

sexta-feira, 4 de março de 2016



FAMÍLIA, LUGAR DE PERDÃO...
Não existe família perfeita. Não temos pais perfeitos, não somos perfeitos, não nos casamos com uma pessoa perfeita nem temos filhos perfeitos. Temos queixas uns dos outros. Decepcionamos uns aos outros. Por isso, não há casamento saudável nem família saudável sem o exercício do perdão. O perdão é vital para nossa saúde emocional e sobrevivência espiritual. Sem perdão a família se torna uma arena de conflitos e um reduto de mágoas.
Sem perdão a família adoece. O perdão é a assepsia da alma, a faxina da mente e a alforria do coração. Quem não perdoa não tem paz na alma nem comunhão com Deus. A mágoa é um veneno que intoxica e mata. Guardar mágoa no coração é um gesto autodestrutivo. É autofagia. Quem não perdoa adoece física, emocional e espiritualmente.
É por isso que a família precisa ser lugar de vida e não de morte; território de cura e não de adoecimento; palco de perdão e não de culpa. O perdão traz alegria onde a mágoa produziu tristeza; cura, onde a mágoa causou doença.
                      Papa Francisco.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Amigos,
Escrever é um dom de Deus para amenizar as tensões e proporcionar a socialização da cultura e da beleza das coisas do universo.
Após muitos anos presos a trágicos deveres (Cruz e Souza), retornei à planície da vida cotidiana e então dei-me ao descortínio das coisas comuns, dos sentimentos naturais das criaturas que habitam as periferias da minha existência.
Mesmo aposentado e inválido para o serviço público, nunca abandonei o trabalho, ainda que de forma de mera colaboração gratuita e assim venho prestando serviços a entidades de cultura, academias e institutos, o que me toma muito tempo.
Agora, com o término da minha participação na diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte resolvi me dedicar ao texto de meu livro de "memórias", ou melhor dizendo, um livro onde eu, como espécie de repórter do tempo, vou relatando o que vivi e assisti em cada época e revelando um lado nunca antes exposto, no campo da inspiração poética.
Espero que DEUS segure um pouco mais a minha vida, um tanto fragilizada com grave enfermidade até que eu possa tentar dar aos meus contemporâneos um retrato de coisas vivenciadas ao longo desses quase 80 anos.
Tal decisão foi tomada em razão de não ter mais esperança de, a curto prazo, ver restabelecida a honra deste nosso tão querido país, dificultando os temas para escrever os meus artigos, crônicas e ensaios.
Agradeço aos meus amigos e leitores e peço suas orações para que eu consiga vencer mais esta batalha.
Um grande abraço de Carlos Gomes

quarta-feira, 2 de março de 2016


Valério Mesquita



BATERIA, POR QUE CHORAS?

Valério Mesquita*

José Paulino de Brito, magro, moreno, vulgo “Banga”, apelido que o credenciava tanto como ponta esquerda do Cruzeiro F.C. ou - no comando da bateria do regional musical - tocava as festas do Pax Club ou em qualquer lugar. Era o acrobata do tarol. Nos desfiles da banda de música municipal pela cidade, desde os anos cinquenta, não somente tocava, mas, se exibia com jeitos e trejeitos como se buscasse o aplauso fácil, espontâneo, provocando a impaciência do maestro. Nas temporadas dos circos em Macaíba, ver Banga contorcer-se na bateria acompanhando uma caliente rumba olhando fixo - ali bem perto, os quadris carnudos da rumbeira rebolativa - era um espetáculo à parte. Cheio de “pinga” Banga deixava-se hipnotizar pelo bumbum, caprichando na percussão da bateria tal e qual um falo frenético em cada movimento sensual da arte erótica da rumbeira circense. Doente do pulmão, Banga viveu de reminiscências, na rua Rodolfo Maranhão, antigo bas-fond macaibense. Os seus olhos, refletiam as luzes dos bailes e circos de sua vida.
Desapareceu um dos últimos expoentes do lirismo humano e musical de Macaíba, onde pontificaram Pereira (piston), Rey (trombone), Neif Nasser (sax), Chicozinho (cavaquinho), Belchior (banjo), Geraldo Paixão (contra-baixo), Tião (surdo), Perequeté (pratos), Paraca, Jessé, Edivan e tantos outros que integravam a banda de música da prefeitura que Cornélio Leite Filho ironizava apelidando de: “a peidona”. José Paulino de Brito foi servidor municipal (porteiro da câmara de vereadores). Aposentado, fazia biscates como garçom e em casas de jogo.
Era filho do casal seu Paulino (barbeiro) e Hilda, fiel eleitora de seu Mesquita. Fui amigo de infância de seus irmãos: Raimundo (Prego), Dione, Canindé e Toinho Chimba. Com a sua morte, a cidade perdeu um pouco a identidade boêmia, na pessoa de um autêntico notívago e pastorador de auroras das ruas antigas de sessenta anos passados. Como ponta esquerda do Cruzeiro, o azul celeste dos gramados do futebol, armava as jogadas simples e complicadas sob a orientação técnica de Nestor Lima. Ao lado dos atletas Bedé, Tota, Passarinho, Loreto, Chico Cobra, Malheiro, Edílson, Magela, Mauro, Aguinaldo (Barbosinha), Galamprão, Caíco e muitos, que formam na minha mente, uma sinfonia provinciana de humanismo e simplicidade de um tempo de ouro, retalhos de cetim.
Os jovens daquela época ainda sobreviventes como eu, testemunhas ou notários públicos, hoje podem relembrar e testemunhar as figuras citadas desse universo semidesaparecido: Cícero Martins de Macedo Filho, Armando Leite de Holanda, Karl Mesquita, Jansen Leiros, Dickson e Nássaro Nasser, Silvan Pessoa, Eudivar Farias, Dozinho, Ubirajara Macedo além de tantos que não dá para citar.
A partida de José Paulino de Brito, emite sons e sinais de que o tempo apaga lentamente as impressões digitais da antiga Macaíba. Banga, mesmo na sua humildade de nascimento e vida, a sua morte diminui uma fase áurea. Apaga nas ruas e as paredes dos bares da cidade a memória dos simples. Não são somente os notáveis, os ricos ou os ambiciosos de todo o gênero que fazem a história de uma cidade, estado ou país. Lembrem-se que na historiografia da humanidade, somente os pobres se assemelham aos mártires.

(*) Escritor.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016



INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE - IHGRN
EDITAL Nº 01/2016 - CE
CONVOCAÇÃO DE ELEIÇÕES
COMISSÃO ELEITORAL designada pela Portaria n° 01/2016-IHGRN-P, de 26 de fevereiro de 2016, do Presidente da Instituição, CONVOCA todos os sócios efetivos do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE - IHGRN, a participarem do pleito eleitoral para a escolha do Diretor Orador (2016-2019), cargo vago em razão da renúncia do sócio eleito no pleito de 10 de novembro de 2015, a se realizar no dia 21 de março próximo vindouro, em Assembleia Geral Eleitoral, em sua sede da Rua da Conceição, 622 – Centro – Cidade Alta, CEP 59.025-270 – Natal – Rio Grande do Norte, no horário corrido das 8 às 12 horas, aplicando-se as mesmas regras editalícias adotadas para o pleito de 10/11/2015 que está afixado na sede da Instituição, no início indicada. As inscrições dos candidatos serão recebidas até às 11 (onze) horas do próximo dia 15 de março do ano corrente, na Secretaria do IHGRN.
Natal/RN, 26 de fevereiro de 2016
A Comissão Eleitoral
CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES, Presidente
ODÚLIO BOTELHO MEDEIROS, Membro

AUGUSTO COELHO LEAL, Membro

domingo, 28 de fevereiro de 2016

MINHA MÚSICA PREFERIDA E OS MEUS MAIS QUERIDOS INTÉRPRETES










TÔ IDOSO
 

Eu nunca trocaria meus amigos surpreendentes, minha vida maravilhosa, minha amada família por menos cabelo branco ou uma barriga mais lisa. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítico de mim mesmo. Eu me tornei meu próprio amigo. .. Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumado, de ser extravagante.
Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento.
Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia? Eu Dançarei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 &70, e se eu, ao mesmo tempo, desejo chorar por um amor perdido ... Eu vou.
Vou andar na praia em um calção excessivamente largo sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no jet set.
Eles, também, vão envelhecer.
Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes.
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito.
Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto.
Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata.
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais.
Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser idoso. 
A idade me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias (se me apetecer).
Que nossa amizade nunca se separe porque é direto do coração!

Colaboração de Wellington Leiros.