domingo, 8 de janeiro de 2017

HOMENAGEM


OUTRAS CARTAS DE COTOVELO – 03- 8/janeiro/2017
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
        


O domingo acordou claro e os primeiros raios de sol atingem a varanda da nossa casa de Cotovelo, que fica no primeiro andar.
       Esse amanhecer, depois de tantos anos, não mais que de repente mudou nossos costumes e abrimos as portas para o dia – nunca é tarde para mudar alguma coisa do nosso cotidiano.
       Sentei-me, com Thereza, e trocamos ideias triviais sobre as obrigações do dia ao mesmo tempo em que, de maneira aleatória, corremos os prefixos AM e FM do radinho de pilha para alguma motivação e, senão quando nos deparamos com prazeroso som da Rádio Senado que apresentava o programa “Hora de Ouro”, desfilando joias musicais da radiofonia brasileira que nos trouxeram devaneios do passado com as vozes inconfundíveis de Almirante, Carmem Miranda, Isaurinha Garcia, Chico Alves e Mário Reis, entre outros.
       Certamente nos despertou a saudade do que costumo proclamar: “tempo dos pardais no verde dos quintais”.
       A expressão não é da minha autoria, vem da canção Tempo dos Quintais (também conhecida como Tempos dos Pardais), de Sivuca e Paulinho Tapajós, gravada por Fagner e outros:
Era uma vez/um tempo de pardais/de verdes nos quintais/faz muito tempo atrás/quando ainda havia fadas. Num bonde havia/um anjo pra guiar/outro pra dar lugar/pra quem chegar sentar/de duvidar, de admirar/Havia frutos num pomar qualquer/de se tirar do pé/no tempo em que os casais/podiam mais se namorar/nos lampiões de gás sem os ladrões atrás/tempo em que o medo se chamou jamais. Veio um marquês de uma terra já perdida/e era uma vez, se fez dono da vida/mandou buscar cem dúzias de avenidas/pra expulsar de vez as margaridas/por não ter filhos, talvez por nem gostar/ou talvez por manias de mandar. Só sei que enquanto houver os corações/
nem mesmo mil ladrões, podem roubar canções/E deixa estar, que há de voltar/o tempo dos pardais, do verde dos quintais/tempo em que o medo/se chamou jamais!
        Agora vamos adotar esse novo costume nas manhãs de sol, em verdade, no período de veraneio, pois em Natal não disponho de local tão singular.
       Em nossa varanda, entremeados com o passar dos carros regressando da folia de ontem em Pirangi e das barulhentas motos, anotamos algumas providências para o dia de hoje e, a mais importante delas, louvarmos os 69 anos de casamento de duas pessoas adoráveis: Eider Furtado e Dona Helenita, comemorando suas “Bodas de Mercúrio”, na preservação de uma convivência exemplar, de amor e luz.
       Infelizmente, este ano, por problemas de minha saúde, nos privaremos da justa comemoração, razão pela qual, com os mais efusivos parabéns, desejamos para o casal as infinitas bênçãos de Deus (êpa, neste exato momento um beija flor levita à minha frente, há menos de um metro do computador). Prometemos um reencontro festivo nas “Bodas de Vinho”, se nosso Criador o permitir. Thereza, ao meu lado, disse: “vinho quanto mais velho melhor”.
       Como ensina o Eclesiastes, para tudo há um tempo certo, e agora é o de louvar e agradecer ao Construtor do Universo pelo dom da vida.
       Assim, com os acordes das canções da Santa Missa na televisão e o tilintar de pratos e copos, devemos descer ao seio da casa para o café matinal com a família.
       Bom domingo para todos!


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