sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

OUTRAS CARTAS DE COTOVELO – 07- 20/janeiro/2017
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
        




Sem esperar os primeiros sinais de um dia de verão, madruguei com o pipocar de fogos comemorando o dia de São Sebastião, coincidentemente, também o aniversário da minha primogênita Rosa Ligia igualmente usufruindo do descanso de Cotovelo 2017.
Resolvi preparar-me para o café da manhã especial pela efeméride e me pus a compulsar um dos livros que mantenho à mão nesses períodos de veraneio e, num olhar sobre a pilha junto ao meu computador concentrei a minha visão para o “Bom dia a todos”, livro de orações da autoria do jovem Albany Dutra, já meu conhecido de outras leituras, mas não especificamente dessa sua obra citada, adquirida no verão de 2015, que ficou entre outras na biblioteca da praia.
Feliz escolha, pois à medida que concentrava a minha leitura sobre as primeiras páginas fui sendo tomado de incontida emoção pela beleza de vida desse jovem escritor cristão e a grandeza de seu espírito ao enfrentar o “Moloch” que o abalou, o mesmo Leviatã que me constrange há uma década, permitindo um conhecimento comum do problema.
A verdade é que, após compulsar algumas páginas me senti preparado para abraçar a aniversariante na primeira refeição do dia, o que fiz sem ser possível conter uma lágrima atrevida. Estava numa espécie de estado de Graça.
Entre os vários comentários do livro, destaco “Aquele que ouve a palavra” o qual, após transcrever Lucas 5, 4-5 conclui se referindo a Pedro, cansado da pescaria sem êxito do dia anterior, ao acatar  pedido do Mestre: “Por causa da tua palavra, lançarei as redes”, comentando: O Senhor quer de nós essa fé e esperança para não desistirmos. Se confiamos nele, é porque acreditamos em tudo o que ouvimos a seu respeito. Então, para que ter medo? Vamos sair do nosso comodismo quando as coisas não derem certo? Vamos deixar o orgulho e a vaidade de lado e procurar ouvir Jesus? Se Jesus pedir para nos arriscarmos e lançarmos as redes das nossas dificuldades, das nossas aflições e tribulações ao largo do seu coração, não percamos tempo! Aquele que confia e ouve o Senhor, nunca vai se decepcionar. Bom dia a todos!”.
Bom dia minha filha. Parabéns!




quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

OUTRAS CARTAS DE COTOVELO – 06- 18/janeiro/2017
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
        




Impossível ficar indiferente ao que vem ocorrendo na Penitenciária de Segurança Máxima de Alcaçuz – verdadeiro paradoxo com a busca da tranquilidade dos que procuram recuperar suas forças na aprazível Praia de Cotovelo, vizinha à pacata comunidade do Pium.
O problema vem de longas datas, desde quando há 18 anos foi inaugurado esse equipamento prisional. Reclamam uns que o local de dunas é incompatível pela textura do solo. Contudo, um presídio de segurança máxima tem uma técnica que se torna indiferente o solo onde é erguido. O caso, na realidade, foi incompetência, descuido e falta de manutenção física e de recursos humanos, exageradamente inferiores ao necessário e mesmo assim com pessoal jejuno de reciclagem, armamento e assistência pertinente à importância desse centro de reclusos.
A situação calamitosa não é local, mas decorrente da falta de uma política nacional de Segurança Pública. A propósito disso, deve-se rememorar uma matéria engendrada pelo jornalista Arnaldo Jabor, em 2006, em uma coluna do Jornal O Globo, quando teria entrevistado o apenado líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, conhecido por “Marcola”. Verdadeira ou não, merece se levar em consideração alguns aspectos da matéria:
“Estamos todos no inferno. Não há solução, pois não conhecemos nem o problema. O GLOBO: Você é do PCC? – Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível… vocês nunca me olharam durante décadas… E antigamente era mole resolver o problema da miséria… O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias… A solução é que nunca vinha… Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a “beleza dos morros ao amanhecer”, essas coisas… Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo… Nós somos o início tardio de vossa consciência social… Viu? Sou culto… Leio Dante na prisão… O GLOBO: – Mas… a solução seria…– Solução? Não há mais solução, cara… A própria idéia de “solução” já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma “tirania esclarecida”, que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC…) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios…). E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução. O GLOBO: – Você não têm medo de morrer? – Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar… mas eu posso mandar matar vocês lá fora…. Nós somos homens-bomba.”
É a banalização do sistema punitivo, que agora vive dias de agonia, com medidas de emergência, sem a métrica apropriada. No RN fala-se em contratação emergencial, mas com ameaça de greve dos agentes policiais, e uma possível intervenção das forças armadas, ainda imunes às intempéries da corrupção.O momento exige cautela e união!
A população aguarda e espera uma solução definitiva, séria, consistente e sustentável.

Vale a pena repisar: vamos mudar Penitenciária para outro complexo, construído dentro da técnica adequada e transformar a edificação existente numa Central de Abastecimento, que o local é apropriado para isso.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017


Os momentos de lazer propiciam um reencontro com o nosso mundo interior, com o nosso “eu” de velhas jornadas, que passamos muito tempo sem ver, ao ponto de não termos mais certeza sequer de que ele existe. Pois a vida nos torna uma contrafação de nós mesmos: a “persona” construída para abrigar a nossa imagem projetada pelos outros e a impossível imagem que desejaríamos ter. Por isso, durante os veraneios afluem tão fortemente os resíduos de um tempo redescoberto. Por exemplo, ao colocar o pé na areia antevejo o reencontro que vou ter com Varela Barca. Conversaremos sobre política e a vida jurídica da província. Temos a convicção de que nossos critérios e princípios éticos coincidem. Não nos inibe, então, o receio de expor livremente nossas opiniões. Muitas vezes esses passeios compensam extensos períodos em que pouco nos vemos, absortos na vida profissional e familiar. Mas, ao começar a minha caminhada, procurei inutilmente o meu amigo no lugar onde sempre nos encontrávamos. Na verdade, ele deixou de ali estar faz muito tempo, pois morreu prematuramente. E ainda assim eu tinha a expectativa de que iria revê-lo. Meus passos seguiram a esmo, como se procurassem um caminho de amizade inexistente. Esse caminho só existe agora na minha memória.
Quando alguém passou na frente da minha casa e me acenou, tive, momentaneamente, a impressão de que era o médico João Bosco. E que ele poderia sentar-se à mesa ao meu lado para bebermos e conversarmos sobre coisas alegres e bem-humoradas, como sempre fazíamos. Bosco tinha uma capacidade de doar-se aos amigos que destoava desse ambiente social de vaidades e rivalidades irracionais. Era um grande companheiro das reuniões descontraídas de veraneio. Lamento que minha voz não possa mais alcançá-lo para o convite de uma rodada de uísque: um enfarte retirou-o de repente e para sempre da nossa convivência. Apesar disso, parece-me ouvi-lo dizer: “Pois é, estou de volta”, como fazia ao retornar de um chamado médico, reintegrando-se ao grupo de amigos.
E como posso faltar à noite ao compromisso que assumi com o poeta Augusto Severo Neto e Lucinha? Márcio Marinho irá com o seu violão. E ouviremos bossa nova, fados, canções francesas e italianas. Augusto dirá poemas seus e dos grandes poetas nacionais. Pois a casa de Augusto é o mais agradável recanto de boas conversas, belas histórias de viagens, música e poesia, que ilumina o veraneio. A casa é como é. E ele não pretende mudá-la em nada. De fora, uma casa de pescador. Por dentro, um museu de quadros e objetos de arte. Só o talento e o amor de Augusto e Lucinha tornam a casa um lugar que transfigura o tempo e o espaço: quando lá se entra, o tempo e o espaço ensaiam uma dança de velhos e cansados parceiros que resolveram mudar de papel – o tempo vira espaço e o espaço tempo. Perde-se a noção de quando se entrou, perde-se a noção de onde se está. O tempo é o espaço da casa e o espaço é o tempo em que lá permanecemos. Mas o que posso fazer se Augusto e Márcio deixaram definitivamente vazias, insípidas, monótonas as nossas noites de veraneio? Apenas o mar é exatamente o mesmo, indiferente à dor da saudade de quem se demora a contemplá-lo.

domingo, 15 de janeiro de 2017

OUTRAS CARTAS DE COTOVELO – 05- 15/janeiro/2017
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes, veranista e escritor
       

    

Esta carta de hoje tem o escopo de registrar ações saneadoras para situações especiais que afligem moradores e veranistas todos os anos, notadamente nos vetores segurança, iluminação das ruas, acessibilidade e limpeza pública.
     Neste 2017 que se inicia já registramos algumas soluções satisfatórias com o somatório de esforços entre o público e o privado no que diz respeito à segurança da praia de Cotovelo e cercanias através de um projeto de segurança 24 horas, elaborado pela PROMOVEC e executado pela Master Segurança, com rondas motorizadas, colocação de câmeras em pontos estratégicos, com o apoio da Polícia Militar, para a qual os associados estão contribuindo para reposição eventual de peças dos veículos que nos servem nas ocorrências policiais.
   Diariamente são disponibilizadas informações sobre os acontecimentos, com o mapa das rondas e fotos de ocorrências coletadas pela Central da Master e publicadas no grupo de WhatsApp.
    Contudo, infelizmente, ainda não temos a mesma eficiência na administração do Presídio de Alcaçuz, vivendo neste final de semana uma rebelião sem precedentes e cuja avaliação ainda está em andamento. Certamente, o ideal será a relocalização da Penitenciária para um local mais adequado, construído com a técnica mais moderna, ficando o prédio atual para o atendimento, por exemplo, de uma Central de Abastecimentos premiando o lugar com a sua tradicional destinação – produção de hortifrutigranjeiros, eis que ali funcionou um primitivo assentamento comunitário entre japoneses e brasileiros para atividade de agricultura. Vamos insistir nisso!
   Quanto à iluminação pública, ainda não alcançamos o mesmo sucesso do ano passado. No entanto, em razão da colocação das câmeras têm sido mais eficiente a fiscalização das ruas, facilitando a localização de irregularidades de variados matizes – fatos estranhos à normalidade como veículos em atitude suspeita, colocação de lixo, postes com lâmpadas queimadas e assim por diante.
        Sobre a mobilidade urbana devemos aplaudir a iniciativa do DETRAN ao disponibilizar uma terceira via de acesso às praias do sul nos dias previstos de grande movimentação, dando segurança e comodidade aos que transitam pelo nosso litoral sul, já com avaliação positiva, enquanto se espera a solução definitiva com a construção da superestrada de acesso contornando Pium até Piranbúzios.
    Por fim a limpeza pública sobre a qual podemos confirmar a regularidade da coleta feita pela Prefeitura Municipal de Parnamirim e a colaboração da PROMOVEC que fixou lixeiras em vários pontos da praia, distribuindo panfletos orientadores aos visitantes e realizando periodicamente mutirões de limpeza da orla pelos associados e membros da comunidade, com a ajuda dos jovens do Projeto Attitude, tudo terminando numa confraternização dos voluntários na sede com um lanche reparador.
     Esse caminhar solidário da população com o Poder Público é resultado concreto da evolução da nossa consciência de cidadania.
     Estamos todos de parabéns.